Os vazios urbanos, a situação dos refugiados e a discussão sobre cidades inteligentes marcaram debate preparatório para a UIA 2020Rio realizado na quinta-feira, 23 de maio, no IAB-RJ. O tema desta edição foi Transitoriedades e Fluxos, um dos eixos do Congresso da UIA.
O evento faz parte de um ciclo de debates organizado por quinze cursos de graduação em arquitetura: IFF, UFRJ, UFRRJ, UFF, UERJ, Gama e Souza, IBMR, PUC-Rio, Silva e Souza, UGB, Unesa, Unigranrio, Unilasalle, Unisuam e UVA, com apoio da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), do CAU/RJ e do IAB-RJ.
Participaram da mesa a professora da FAU/UFRJ, Andréa Borde; a pesquisadora da Fiocruz, Natalia Cidade; e o diretor executivo do ITS Rio, Fabro Steibel, além do coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Veiga de Almeida, Carlos Murdoch, como mediador.
Vazios urbanos
Andréa Borde trouxe o tema dos vazios urbanos como exemplos de espaços que deveriam ser transitórios, mas que acabam tendo ocupações permanentes, embora não sejam utilizados da melhor forma. “O Centro do Rio possui 5 mil imóveis abandonados. Este dado é de 2008, mas a realidade não se alterou muito. Os vazios centrais têm uma relação muito forte com a cidade, mas são ocupados por carros. Sobrados se transformam em estacionamentos. Até que ponto esses vazios deixaram de ser transitórios?”, questionou.
“São espaços infraestruturados que não estão cumprindo sua função social”, afirmou. Borde citou exemplos como o Point Éphémère, no bairro parisiense de Montmartre, antiga fábrica e hospital desativados que deram lugar a um galpão cultural; e mostrou experiências de mapeamentos colaborativos de vazios urbanos.
Fluxos migratórios
Natália Cidade pesquisa o tema dos refugiados pelo ponto de vista do território. Segundo informações da arquiteta e urbanista, há 1 bilhão de migrantes no mundo. Destes, 258 milhões são migrantes internacionais. Ela explicou que é considerado refugiado toda pessoa que, devido a fundamentados temores de ser perseguido por motivo de raça, religião, nacionalidade, por pertencer a determinado grupo social ou por suas opiniões políticas, tenha seus direitos humanos ameaçados. A pesquisadora desmitificou a dimensão do problema da imigração na Europa, mostrando dados sobre os países que mais recebem migrantes no mundo: Turquia, Bangladesh, Sudão, República Democrática do Congo e Uganda. “No Líbano, um quarto da população é de refugiados”, complementou.
“58% dos refugiados são urbanos. Estão na cidade, mas onde? Não sabemos?”, questionou Natália Cidade. A insuficiência de políticas públicas relacionadas ao tema, a falta de abrigos e de órgãos públicos para dar suporte a esta população nas esferas municipais e estaduais foram apontadas como as principais questões na discussão sobre refúgio e cidade. Para ela, os arquitetos e urbanistas devem ir além da elaboração de soluções espaciais provisórias, para campos de refugiados, já que esses espaços endossam a lógica dos refugiados como habitantes temporários, o que, na maioria dos casos, não é verdade. “Dificilmente, essas pessoas vão ter condições de voltar para seus países de origem”, observou.
“O que torna as cidades inteligentes inteligentes?”. Este questionamento foi o fio condutor da palestra de Fabro Steibel, do Instituto de Tecnologia e Sociedade. Para ele, é dada muita ênfase no hardware e esquece-se dos moradores das cidades. O diretor do ITS-Rio alertou que, ainda, há uma defasagem entre os dados pessoais coletados e o tratamento desses dados para modelos de negócio. Ele lembrou também que, parte da população, sem acesso à internet não está incluída nesse levantamento. Dessa forma, elaborar soluções com base nessas informações pode criar cidades que não são representativas de seus habitantes. Para ele, este é um dos motivos pelo qual as pessoas devem participar da governança dos locais onde habitam. “Quantos aqui já mandaram um e-mail para a prefeitura propondo uma solução? Eu diria que é necessário ocupar o governo”, propôs Steibel.
Confira quando serão os próximos eventos:
EIXO 1 – Diversidade e Mistura: agosto de 2019
EIXO 2 – Mudanças e Emergências: 06 de junho e setembro de 2019
EIXO 3 – Fragilidades e Desigualdades: outubro de 2019
EIXO 4 – Transitoriedades e Fluxos: novembro de 2019