“Para diminuir a desigualdade dentro das cidades, deve-se radicalizar o trabalho com a diversidade”, afirmou o diretor teatral e escritor Marcus Faustini. Autor do Guia Afetivo da Periferia e criador da metodologia das Redes para a Juventude, Faustini foi um dos debatedores da mesa-redonda Diversidade e Mistura, que contou com as participações de Leslie Loreto, sócia do escritório Arche Projetos Participativos, e de Henrique Silveira, coordenador executivo da Casa Fluminense. Organizado por 15 cursos de Arquitetura e Urbanismo das universidades do estado do Rio, evento ocorreu na quinta-feira, 25 de abril, na sede do IAB-RJ.
Segundo Faustini, diversidade foi um conceito político importante nos anos de 1980, que deu protagonismo a atores que já tinham o domínio da fala política. Entretanto, para avançar na construção de cidades mais justas, defendeu que é indispensável trabalhar com as diferenças. “Significa trabalhar com pessoas que atuam em outras perspectivas. É uma questão complexa. Não há apenas uma única solução para os desafios que se apresentam”, afirmou. E os desafios não são poucos. O mapa das desigualdades da Casa Fluminense mostra um recorte cruel de uma parcela significativa da população fluminense que vive na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por exemplo, 54% da população de Japeri gasta mais de uma hora no deslocamento casa-trabalho. Em Belford Roxo e em Nova Iguaçu, os percentuais são de 43% e 39%, respectivamente. Dados do Censo/IBGE de 2010 apontam que 55% da população de Japeri trabalha fora da cidade. Em Mesquita, 60% da sua força de trabalho atua fora do município. “Parcela significativa dessa mão de obra está empregada na cidade do Rio de Janeiro. Não se trata apenas de um problema de mobilidade urbana. Observamos também problemas de concentração de oportunidades, de renda, de serviços públicos na capital fluminense, mais especificamente na sua região central”, criticou Silveira.
Única arquiteta e urbanista como debatedora da mesa-redonda, Leslie Loreto foi direta: “Não existe atuação paralela dos arquitetos, ou experimental, ou ainda laboratório que possa discutir diversidade e mistura se não através de políticas públicas”. Com uma trajetória profissional pouco convencional, Leslie é sócia do Arche Projetos Participativos, que se reconhece como assessoria técnica para habitação de interesse social. “O nosso escritório é a tentativa de levar arquitetura para todos, respeitando o que cada comunidade tem de particular”, completou. Ao compartilhar um pouco da sua experiência no trabalho junto aos movimentos de moradia, a arquiteta e urbanista destacou o papel das mulheres na luta pelo direito à moradia. “A interlocução normalmente é com mulheres. O território feminino é a mulher que escolhe”, disse. Entretanto, a trajetória de muitas dessas lideranças femininas é marcada por violência, seja doméstica ou verbal. “Essa triste realidade traz também o desafios do que é lidar com essas mulheres. Depois, no período da obra, parcela da mão de obra é composta pelos próprios beneficiários. Como trabalhar com elas? Contudo, após aprenderem um pouco sobre construção civil, a vemos coordenando obras”, explicou. Leslie encerrou a discussão com uma provocação: “O que é possível para os arquitetos e urbanistas pensarem em políticas públicas para as cidades daqui em diante?”.
Debates preparatórios para o UIA2020RIO
O debate “Diversidade e Mistura” abriu série de discussões que visam a pensar os subeixos dos 27° Congresso Mundial de Arquitetos – UIA2020RIO, que pela primeira vez será sediado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, e voltará a ocorrer num território latino-americana após 42 anos. A iniciativa conta com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ) e tem a organização de nada menos que 15 cursos de Arquitetura e Urbanismo das universidades do estado do Rio de Janeiro: Gama e Souza, IBMR, IFF, PUC-RIO, Silva e Souza, UERJ, UGB, UNESA, Unigranrio, Unilasalle, Inisuam, UFF, UFRJ, UFRRJ e UVA.
De acordo com a arquiteta e urbanista Fabiana Izaga (foto), do Comitê Executivo do UIA2020RIO, a proposta da série de debates receber a chancela de evento preparatório para o congresso mundial foi recebida com entusiasmo pela organização do evento. “Foi uma alegria enorme que vimos a articulação das escolas de arquitetura entorno de discussões para fomentar os temas do congresso. Estamos começando hoje o UIA2020RIO, representado aqui por todas as universidades do Rio de Janeiro”, afirmou.
Como tema “Todos os mundos. Um só mundo. Arquitetura 21”, o 27° Congresso Mundial de Arquitetos será o maior evento sediado na cidade do Rio de Janeiro após os Jogos Olímpicos em 2016. A expectativa da organização é que o evento cerca de 15 mil profissionais de todo o globo. Por sediar o maior fórum internacional de arquitetura e urbanismo, a cidade do Rio de Janeiro foi eleita, Capital Mundial da Arquitetura no dia 18 de janeiro. O título, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), vem com série de obrigações com objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da cidade, além de se apresentar como oportunidade de reflexão sobre o urbanístico do Rio.