A tarde de terça-feira, 21 de julho, do 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO) foi marcada pelas apresentações de dois arquitetos verdadeiramente “obcecados” pelos seus objetos de trabalho: o italiano Stefano Boeri, que projeta florestas verticais e aspira pela criação de corredores verdes que conectem diversos territórios; e a americana Jeanne Gang, primeira mulher a projetar dois dos prédios mais altos do mundo e grande defensora do contato com lideranças locais para melhorar os espaços dos grandes centros urbanos.
STEFANO BOERI E A OBSESSÃO VERDE
O italiano Stefano Boeri dedica a profissão a projetar corredores verdes e jardins verticais, sob a crença de que o planejamento urbano deve estar sempre associado a preocupações com mudanças climáticas e com a preservação da biodiversidade. Para ele, um bom edifício – e o que deve ser o edifício do futuro – é aquele que serve como abrigo não só para humanos, mas também para espécies de plantas e animais. Em uma escala maior, o arquiteto defende a criação de florestas urbanas e verdadeiros corredores verdes, cuja vegetação seja capaz de interligar territórios.
Ao redor do mundo, Boeri assina projetos de florestas verticais, ou seja, prédios com superfícies tomadas por vegetação. Alguns deles são: o Bosque Vertical, em Milão (Itália), com duas torres cobertas com mais de 21 mil espécies de plantas; a Floresta Vertical de Nanjing (China); e a Torre de Cedro (Suíça).
O palestrante explicou ao público que não se trata de mera questão de paisagismo, mas de embutir a natureza selvagem nos projetos, encontrando um novo ponto de vista para que a arquitetura se torne uma “arquitetura da biodiversidade”. Ele deu o exemplo do Bosque de Milão: são duas torres cobertas com mais de 21 mil espécies de plantas e mais de 20 espécies de pássaros que vivem nas fachadas; de acordo com estudos que vêm sendo realizados, notou-se que, durante o verão, os moradores do prédio não precisam sequer utilizar ar condicionado.
– Eu acredito que essa “obsessão verde”, como eu chamo, é algo que pode interferir no modo como estamos interessados em criar edificações, construções a serem habitadas por pessoas e por pássaros. Queremos desenhar verdadeiras florestas urbanas, planos para cidades mais conectadas e presentes. Assim, podemos criar habitações onde as superfícies que não são aproveitadas se reduzam a um mínimo. É uma obsessão criar um corredor de biodiversidade ainda maior no planeta, que possa unificar territórios, oásis naturais e florestas. As cidades verdes são os pontos de conexão na geração desse corredor – disse Stefano.
JEANNE GANG: O PODER DOS ARRANHA-CÉUS E DO ENVOLVIMENTO COM A COMUNIDADE
Jeanne Gang foi a primeira mulher a projetar um dos prédios mais altos do mundo, o Aqua (Chicago (EUA), com 82 andares; depois, bateu o próprio recorde, com o projeto do St. Regis, também em Chicago, de 101 andares. Durante a palestra no UIA2021RIO, a americana afirmou que toda a sua jornada é voltada para o trabalho com comunidades. Fundadora do Studio Gang há mais de 20 anos, ela aponta que o foco do seu escritório são os grandes centros urbanos, e como a arquitetura e o design urbano podem se unir para criar uma conexão mais forte no quesito diversidade, melhorando os espaços para todos.
– Durante a pandemia, tivemos o exemplo de como o espaço pode desestimular as interações sociais. Isso foi muito triste, pois o que precisamos como pessoas são justamente as interações sociais. Com isso, nossos espaços públicos se tornaram ainda mais importantes, pois são flexíveis e conseguem acomodar pessoas com o distanciamento físico nessas áreas. Os espaços públicos na pandemia também foram usados para manifestações políticas, o que é muito importante para a democracia. Acredito que seja fundamental expandir a noção do que é espaço público até mesmo para lugares semi-públicos – defendeu Jeanne.
Ao longo de sua fala, Gang mostrou projetos que realizou nos Estados Unidos. São eles: o Chinese American Service League, na comunidade de Chinatown, em Chicago; o SOS International Community Center, também em Chicago; e dois projetos em Memphis, nos quais, ao lado de sua equipe, trabalhou em espaços públicos com o engajamento da comunidade para desenvolvê-los. O trabalho em Cobblestone Landing, Memphis, mostrou-se um desafio, pois era um lugar no qual pessoas escravizadas trabalhavam na indústria de algodão no país.
Assim, no processo, a arquiteta pontuou o quão importante foi estar em contato com pessoas de grupos variados da região, consultando artistas, filantropos, moradores e ativistas como Elmore Nickelberry, que marchou com Dr. Martin Luther King. Com isso, ela destacou a relevância de ouvir as impressões das lideranças locais na hora de trabalhar em um espaço público, para reconhecer o que é, de fato, necessário naquele local.
Fonte: UIA2021RIO