Na manhã de quarta-feira (21), quarto dia da programação principal do UIA2021RIO (27º Congresso Mundial de Arquitetos), três arquitetos de diferentes países da Ásia dividiram um pouco de seus processos criativos e práticos com o público: Rui Leão, presidente do Conselho Internacional dos Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP), que vive em Macau (China); do Japão, Kengo Kuma, vencedor do Global Award for Sustainable Architecture; e, da Indonésia, Andra Matin, líder do escritório de arquitetura andramatin.
RUI LEÃO E A INTEGRAÇÃO DE ESPAÇOS URBANOS
A primeira conferência foi de Rui Leão, que compartilhou alguns dos seus trabalhos com espaços
urbanos e revitalizações em Macau, na China. Para falar sobre a arquitetura como forma de criar
espaços públicos que mantenham interface com a infraestrutura da cidade, o arquiteto apresentou o processo da Praça Nam Van, em Macau. O desafio era criar uma praça pública em um espaço no qual ela não cabia, por ser projetada para estar em uma rotunda. A solução foi, então, puxar as estradas para fora, aumentando a área da praça e criando soluções para o trânsito e para o convívio dos cidadão neste novo ambiente:
– Foi um desafio e tanto projetar uma praça no meio da encruzilhada de estradas principais. O projeto mostra como acrescentamos o cívico a essa nova área da cidade, integrando a Torre de
Macau no tecido urbano e criando um sentido nacional de espaço. Se olharmos para a maneira como a cidade é compacta e limitada em termos de espaços públicos, nossa contribuição se deu em como conseguimos encontrar e fornecer um alto grau de liberdade, com tantas novas áreas livres.
KENGO KUMA E OS POSSÍVEIS NOVOS RUMOS DA ARQUITETURA DO SÉCULO 21
A conferência do arquiteto japonês Kengo Kuma, uma das mais esperadas do congresso, começou
com uma exaltação a Oscar Niemeyer e sua forma de integrar espaços externos e internos, e criar
“entre-espaços”. O arquiteto compartilhou um pouco sobre seus processos em diversos projetos,
inclusive o de sua obra mais recente e de mais destaque: o Estádio Nacional do Japão, que receberá competições das Olimpíadas de Tóquio.
Segundo Kuma, o estádio foi feito com uma porcentagem considerável de madeira, apesar de
instalações esportivas geralmente demandarem o uso de muito concreto. O arquiteto japonês
explicou que lhe pareceu óbvio projetar a arena de forma que o vento pudesse circular livremente,
de modo a diminuir a necessidade de instalação de ar condicionado:
– A arquitetura do século XXI é como uma caixa feita de concreto e acaba muito dependente do ar condicionado. Mas, no trabalho de Niemeyer, ele não pensou em ar condicionado. Pensou em fazer o vento soprar e criar uma sombra; assim, em dias muito quentes, as pessoas podem aproveitar a sombra. Essa forma de pensar também está na arquitetura japonesa. É importante pensar fora da cultura do ar condicionado e acho que, agora, depois do coronavírus, o mundo irá para uma direção diferente. As pessoas estão começando a perceber que não querem trabalhar em uma caixa com ar condicionado, mas, sim, em um espaço agradável, um entre-espaço. Fiz um estádio nacional adequado a essa nova era.
ANDRA MATIN: ARQUITETURA VERNACULAR E HERANÇA CULTURAL
A herança cultural heterogênea e diversificada das ilhas Indonésias é a base do trabalho de Andra
Matin. O arquiteto busca, em todos os seus projetos, aproveitar materiais locais, reduzir custos e resíduos, além de ter sempre uma abordagem contemporânea para os valores tradicionais da arquitetura local.
Em sua conferência, Matin compartilhou comentários sobre alguns de seus trabalhos na Indonésia:
projetos residenciais, inclusive o da própria casa; o Aeroporto Banyuwangi, com seus telhados e
terraços verdes que vão contra o padrão de aeroportos internacionais; o Potato Head Beach Club’s, com toda a fachada em janelas venezianas que foram descartadas pela população e reaproveitadas pela equipe; e o Omah Jati, feito inteiramente de madeira no meio de uma floresta de árvores ‘Teak’, mas sem usar a madeira dessa espécie, para sinalizar a importância da preservação das reservas.
– Da arquitetura vernacular, posso aprender sobre os espaços de convivência, a lógica da
construção, a tecnologia e os materiais, a cultura familiar, como conviver com a natureza e como
encontrar conforto. Como indonésio, nunca achei que tivesse que escolher apenas um aspecto dessa
diversidade arquitetônica para incorporar à minha prática. Sou inspirado pela grandeza de tudo que encontro, e combino esses fragmentos em meus projetos.