Natural de Bangladesh, a arquiteta Marina Tabassum foi um dos grandes nomes da arquitetura
mundial a palestrar no primeiro dia do UIA2021RIO (27º Congresso Mundial de Arquitetos), que começou neste domingo e vai até 22 de julho. Reconhecida por trabalhar a arquitetura em consonância com o ambiente no qual a construção se situa, com atenção aos desafios impostos pelo meio e propostas para uma ‘ecologia de sustento’, Marina comentou três dos seus projetos ao longo da sua fala no congresso, incluindo o da Mesquita Bait-ur-Rouf, pelo qual ganhou o Prêmio Aga Khan em 2016.
O projeto da Mesquita Bait-ur-Rouf foi reconhecido por desafiar o padrão arquitetônico de mesquitas e ser um respiro no caos urbano da cidade de Dhaka, capital de Bangladesh. No entanto, o que mais chama a atenção é o uso da luz natural, que é a única forma de ornamento na construção:
– As mesquitas atualmente vistas em Dhaka e em outros lugares de Bangladesh mostram um grande declínio na tradição arquitetônica, sem nenhuma qualidade de espaço e nenhum senso de
espiritualidade. Me senti atraída a Hagia Sofia ou à Mesquita de Córdova para obter inspiração por
conta da qualidade da luz do dia, que evoca um senso de espiritualidade – conta a arquiteta. – O
orçamento foi muito modesto. Por isso, o projeto permanece elemental e a luz age como único
ornamento.
Como resultado de uma pesquisa sobre as comunidades e vilarejos nômades que vivem no estuário do Rio Ganges e se mudam a cada estação por conta das enchentes, Tabassum também desenvolveu
casas modulares com fácil montagem e desmontagem para atender às demandas da realidade do local. Os módulos eram inteiramente construídos com bambu, palha e conectores de metal.
Outro projeto, desta vez nos Sundarbans, o maior mangue arbóreo do mundo, lar do tigre-de-bengala, foi a construção do Panigram Resort, totalmente integrado à natureza e comunidades locais. O projeto ganhou vida com base na organização dos elementos que compunham os vilarejos e com técnicas de construção milenares de uso de lama e adubo, aprendidas com os próprios aldeões:
– Com conhecimento local e uma linguagem arquitetônica que não é um mistério, o projeto cresceu
firme e forte. Com vilas locais como referência, criamos pátios e cabanas que refletem a relação
simbiótica entre a natureza e o homem. Ao mesmo tempo, ajudou a gerar uma economia local que
beneficiou os vilarejos próximos.