Preocupados com o controle de contágio da Covid-19, arquitetos e urbanistas do Grupo de Estudos em Arquitetura e Engenharia Hospitalar (GEA-Hops), da Faculdade de Arquitetura da UFBA, lançaram manual com orientações focadas nas rotinas domésticas. Disponível, gratuitamente, desde o dia 10 de abril, o material foi construído com base nas recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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Elaborado em parceria com a Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar (ABDEH), com a consultoria médica do infectologista Roberto Badaró, o manual estabelece procedimentos para serem adotados em habitações sem e com moradores infectados com o novo coronavírus. As recomendações têm como base legislação específica, como a Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – RDC n° 50/2020, que trata do regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.
De acordo com o coordenador do grupo de estudos, Antônio Pedro de Carvalho, o objetivo da cartilha é mostrar como se deve organizar o espaço residencial para diminuir as possibilidades de contaminação. Uma das orientações é a definição de uma área de transição, entre os ambientes externo e interno da residência. Além de estar bem definido, recomenda-se a colocação de algum mobiliário de apoio para higienização. Nesta área serão colocados: caixa para sapatos ou bolsas de papel, porta bolsas, porta-chaves, apoio de álcool em gel e álcool líquido 70% (INPM). “Isso tudo é para dificultar que se transmita a doença para outras pessoas da casa”, diz o professor, que ressalta a importância dos cuidados em virtude das especificidades do vírus, que é muito contagioso e se prolifera com grande velocidade. “Essa doença é realmente diferente das outras. É uma pandemia violenta e que se espalhou muito rápido por todo o mundo”.
Um dos destaques do manual é que as recomendações não se limitam às residências das famílias da classe média ou alta. Preocupa-se também com a realidade de parcela significativa da população que tem os direitos à moradia e à cidade negados e são obrigados a viver em “casas” sem infraestruturas adequadas, onde várias pessoas compartilham o mesmo cômodo ao mesmo tempo. “No caso de a residência possuir apenas um cômodo, é recomendado estabelecer uma área de isolamento destinada ao morado diagnosticado positivo para Covid-19. A ‘área contaminada’ deve possuir ventilação e iluminação natural. No acesso a esta área de isolamento também será estabelecido área de transição e sinalização com recomendações para procedimentos e utilização adequada do espaço”, diz o manual.
Para o diretor da Faculdade de Arquitetura da UFBA, arquiteto e urbanista Sérgio Ekerman, este é o momento para que centros de produção de conhecimento, a exemplo das universidades públicas, desenvolvam ações e conteúdo que ultrapassem os muros da academia e façam contato direto com a população. “Através dessa experiência de pesquisa, a universidade assume um papel importante, que auxilia e reforça o papel da ciência e da tecnologia no combate à Covid-19”, afirmou. Ainda segundo Ekerman, é preciso olhar e valorizar a produção científica, que se acumula nos mais diversos campos do conhecimento, como na área da Arquitetura e urbanismo. “A divulgação do manual com orientações focadas nas rotinas domésticas ganha maior importância no atual cenário, em que a sociedade recebe mensagens dúbias”, defendeu.
A médica e pesquisadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (Rede-TB) do Rio de Janeiro, Eleny Teixeira, teve acesso ao manual desenvolvido pelo GEA-Hops da Faculdade de Arquitetura da UFBA e elogiou o conteúdo. “O guia é de enorme importância. Em primeiro lugar, baseia-se em recomendações da OMS e do Ministério da Saúde, que se sustentam nas melhores evidências científicas. É a ciência a serviço de proteger a vida das pessoas. Disso, não se abre mão. O manual contempla também diferentes domicílios, incluindo a desigual realidade brasileira, que não dá a todos a mesma chance de se proteger contra a doença. Aqui, cabe considerar as pessoas que moram em favelas e comunidades, com alta concentração demográfica, muitas delas sem saneamento básico. Trata-se de um desafio que nos diferencia de muitos países do hemisfério norte. Nesse sentido, o manual traz um olhar amplo e inclusivo”, explicou.
Além do isolamento social, a recomendação de barreiras físicas para os domicílios é uma forma eficiente para se combater a disseminação da Covid-19. As características de transmissibilidade do vírus – por gotículas – e sua permanência em superfícies de objetos e utensílios de uso comum, como as de acesso, os sanitários e cozinha, reforçam a importância dos cuidados que a população deve tomar dentro de casa. Para Eleny, o manual transporta para o domicílio muitas das recomendações definidas no conceito de isolamento social. Ao falar sobre isolamento social, a pesquisadora diz: “O isolamento social é, inquestionavelmente, a medida mais eficaz para contenção da pandemia”.
* Com informações do portal Edgardigital