O livro Mulheres e a construção da cidade: histórias do urbanismo do Rio de Janeiro será lançado no dia 18/01/2023, às 18h, no Museu de Arte Moderna (MAM-Rio). A publicação apresenta a trajetória de oito urbanistas, servidoras públicas, que contribuíram para o planejamento, formação e desenho da Cidade do Rio de Janeiro. São elas: Angela Fonti, Carmen Portinho, Helia Nacif, Iracy Ozorio, Leticia Hazan, Nina Rabha, Olga Campista, e Verena Andreatta. Elas foram selecionadas pela sua representatividade dentro de um recorte temporal limitado ao século XX.
A obra foi idealizada e organizada pela ex-presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Claudia Escarlate, e contou com todo o apoio da atual presidente, Laura Di Blasi, para sua finalização. A produção editorial, o design e as ilustrações ficaram a cargo da Tix Edições e Arte, sob o comando de Ana Borelli. As autoras e autores Carolina Calvente, Emmanuel Bellard, Lucia Helena Torres, Paula de Oliveira Camargo e Rafael Koury compõem o quadro técnico do IRPH, sob a coordenação de Juliana Oakim, também técnica do IRPH.
Confira o depoimento do presidente do CAU/RJ, Pablo Benetti, sobre o livro e as arquitetas e urbanistas retratadas:
“Ao longo de minha vida profissional e acadêmica tive a sorte de ter pontos de contato, alguns mais permanentes, outros mais eventuais com grande parte das homenageadas neste livro. Sou testemunha das contribuições de todas elas, do seu olhar comprometido suave e firme ao mesmo tempo, que conseguiu, ao longo de muitos anos, manter viva a chama da defesa da cidade de boa qualidade, inclusiva e acolhedora. Muitas linhas seriam necessárias para descrever a trajetória da Carmen. Obviamente nunca trabalhei com ela, mas, mais obviamente ainda, teria adorado ter conversado e aprendido com sua experiência. Associo Letícia à atuação na Câmara de Vereadores, atuante no IAB, ela e o Jacques eram presenças certas em todas as reuniões do IAB e, por ela e através dela, nós defendemos pautas importantes para a cidade.
Com Ângela, Verena e Iracy, meus contatos foram mais esporádicos, mas sempre soube do compromisso delas com a boa cidade. Meus caminhos se cruzaram com Olga em dois momentos. No Rio Cidade, ela, junto com o Conde, esteve à frente desta iniciativa pioneira na época. Todos nós estávamos experimentando e isso somente é possível quando os envolvidos estão comprometidos com a ideia de inovação. Depois, quando ela foi para a Secretaria Estadual de Cultura, voltamos a trabalhar juntos. Não se faz criação sem suporte e sem ser desafiado pelo poder público. Olga para mim representa isso, alguém que cobra a melhor qualidade para o nosso dinheiro que está sendo gasto, seja na obra urbana, seja em equipamentos coletivos.
Coube a mim, no Favela-Bairro, trabalhar com Nina. Naquela época ela era Administradora Regional e juntos pensamos muito em como transformar o Caju (bairro em que me tocou trabalhar). Ela era de uma energia ímpar, com enorme capacidade de articular e com uma visão de cidade que compreendia claramente que a boa cidade precisa tanto do público como do privado. O Favela-Bairro do Caju não seria o que foi sem a ajuda dela, sem a articulação com a Petrobras, com a rede de concessionárias Fiat, com a Escola de Circo, com as próprias forças locais, entre muitas outras. O nome dela no túnel da zona portuária é uma pequena lembrança e homenagem, mas, de fato, seu nome estar no livro é fundamental.
Helia foi minha orientanda de doutorado, em um momento muito difícil de sua vida, em que a doença tirou grande parte das forças que sempre a acompanharam e que lhe faltavam naquela hora, mas também eu intuía que era um momento dela de prestação de contas. Helia tentou, de maneira muito valente, em primeiro lugar escolher um orientador que sabidamente confrontava ela toda hora e isso, por si só, já dá uma dimensão do caráter e da personalidade dela. Várias vezes disse a ela de minha admiração pela sua colocação à frente da Secretaria de Urbanismo, em um meio majoritariamente masculino, que cabia a ela dizer não muitas vezes a investidas especulativas na cidade. De fato, não deve ter sido fácil ocupar essa cadeira sujeita a inúmeras pressões e conseguir sair altiva desses desafios.
Deixo aqui meu testemunho emocionado e meus parabéns pela bela iniciativa. Cidades sem estas mulheres e tantas outras que aí estão seriam muito menos interessantes, sem dúvida”.