A equipe liderada pelo arquiteto e urbanista Índio da Costa venceu concurso público nacional para escolha da melhor proposta de requalificação urbanística da orla de Charitas, em Niterói. O concurso foi promovido pela Prefeitura de Niterói, com organização do IAB-RJ.
Ao CAU/RJ, Índio da Costa destacou alguns pontos do projeto e defendeu a realização de concursos públicos de arquitetura. “Estamos felizes de ter vencido o concurso e esperançosos de que vamos ter o projeto executado. A gente vai acompanhar o processo inteiro. Estou muito animado e vou me empenhar ao máximo para que o projeto seja o melhor possível”, declarou.
O arquiteto e urbanista lembrou que o projeto vencedor ainda está na fase de estudo preliminar e que modificações ainda podem ser feitas a pedido da prefeitura ou da própria população, que deve ser ouvida por meio de audiências públicas. “Já tivemos uma repercussão muito positiva entre a população. No fundo, nosso cliente não é a prefeitura. A prefeitura é um veículo para a gente chegar até a população. A gente faz o projeto visando ao bem-estar da população, que vai frequentar a praia”, afirmou. Confira a entrevista!
Além do Termo de Referência, quais diretrizes guiaram o trabalho da equipe?
A praia (de Charitas) é muito bonita, bucólica, mas está sem infraestrutura. Hoje, as praias têm quiosques de qualidade, têm parques. A gente fez um parque linear em toda a extensão da praia. Esse parque linear tem um calçadão, tem uma ciclovia – porque lá tem uma ciclofaixa, que é uma coisa muito perigosa e desconfortável. É um parque estreito, comprido, com alguns pontos focais. Tem a Praça Rádio Amador em que a gente refez o formato da praça e criou um mirante. Ali já é um ponto muito bonito de vista para a Baía de Guanabara. A gente reforçou isso com uma arquibancada voltada para o mar e uma passarela flutuante de madeira que envolve a praça. É uma praça multiuso.
Outro ponto que a gente atacou foi o redesenho das vias. A gente mexeu, um pouco, não na via interna, mas na via mais próxima da praia para ganhar mais espaço para esse calçadão. A gente diminuiu um pouco o canteiro central e inseriu, entre a via atual e as duas vias paralelas e o canteiro central, o caminho para o futuro VLT, conforme o plano diretor de Niterói ou, eventualmente, o BHLS.
Outra coisa que a gente fez foi recuar o retorno do BHLS existente e ganhamos um espaço maior para um parque mais generoso em frente ao Preventório, que é aquela comunidade na encosta do morro.
A gente refez todos os quiosques, garantindo o mesmo número, mas distribuindo-os. Eles estão muito centrados em um local só e nós redistribuímos um pouco. São quiosques com uma linguagem mais nova, com uma cozinha retangular. E a gente acrescentou um banheiro público, masculino e feminino, PNE.
Lá no fundo da praia, junto ao iate clube, a gente fez um centro náutico porque a Praia de Charitas tem uma vocação náutica histórica. Dali saíram grandes navegadores. Então a gente fez ali um deque de ancoradouro e um espaço multiuso para escolas náuticas e usos variados.
E a gente dá um banho de verde na praia inteira. Aumentamos enormemente o número de árvores com vegetações adequadas da região, além do ganho com a vegetação de restinga, essencial para fixação da areia.
Retiramos o estacionamento do lado direito de quem vai para outras praias, que obstrui a vista do mar, e o recolocamos do lado esquerdo, como em Ipanema e Copacabana, que a gente vai andando a pé ou de carro e os veículos não obstruem a visão da praia. A gente também estendeu o mesmo desenho de pedras portuguesas que vêm pelo calçadão da Praia de São Francisco, para dar maior unidade ao conjunto.
Embutimos todos os fios. Substituímos ainda todos os postes. Mônica Lobo, nossa parceira da LD Studio, realizou o estudo de luminotécnica. Imaginamos iluminar a praia de uma forma muito mais adequada.
Que aspectos relacionados à sustentabilidade e impacto ambiental foram considerados no projeto?
Esses aspectos foram considerados. A gente usa materiais da região, vegetação de restinga da região, árvores que não são exóticas, da Mata Atlântica. Houve uma série de preocupações. E a gente usa materiais, sempre que possível, recicláveis. Está prevista uma estrutura de madeira no centro náutico de madeira laminada. A cobertura dos quiosques é de vidro. Enfim, procuramos fazer uma obra relativamente simples, regional.
Que aspectos relacionados à acessibilidade o senhor destaca no projeto?
Os acessos de travessia. Vamos abrir acesso nos espaços de restinga e nos banheiros públicos. O parque será, de uma certa forma, democratizado por não existir degraus. O acesso será facilitado sempre que possível. A gente pode, inclusive, pensar, em algum dos acessos, ter aquelas esteiras em cima da areia para possibilitar que a cadeira de rodas chegue até o mar.
A modalidade concurso é a melhor forma para contratação de projetos públicos?
O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), historicamente, faz concursos públicos. Evidentemente que o concurso público é uma forma democrática de escolher um projeto pela sua qualidade. As propostas são todas anônimas. Isso já é da norma do IAB. Quer dizer, o júri não sabe quem é o autor do projeto. A autoria é revelada depois que já está tudo escolhido.
A única restrição que eu faria é que é um democrático relativo, considerando que um concurso desse exige um investimento muito grande. Para quem tem pouco dinheiro, fica difícil de entrar numa concorrência dessa, mas ainda é a forma mais democrática de abrir espaço e possibilidades de concorrência para qualquer escritório.