Fotos: Carlos Peder
A abertura da exposição SB100 reuniu, na quarta-feira, 17 de abril, depoimentos emocionados e divertidos de arquitetos e urbanistas que trabalharam com Sérgio Bernardes. Em cartaz até 1º de junho, no Centro Carioca de Design, a mostra, que inaugura os eventos preparatórios da agenda Rio Capital Mundial da Arquitetura, apresenta projetos de design, mobiliário e urbanismo do arquiteto e urbanista que completaria 100 anos no dia 9 de abril.
Quem estava presente na estreia foi surpreendido por uma boa notícia. A presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), Cláudia Escarlate, contou que já está sendo estudado o tombamento do Sanatório de Curicica, de autoria de Sérgio Bernardes.
Curadora da exposição, a viúva e responsável pelo acervo de Sérgio Bernardes, Kykah Bernardes explicou que a mostra é um recorte da extensa produção do arquiteto e urbanista no Rio de Janeiro, a partir de inédito acervo de projetos e desenhos que inclui 22 mil pranchas. “A redescoberta da obra de Sérgio Bernardes é muito necessária nesse momento. Talvez o presente não fosse tão sombrio se ele tivesse encontrado eco para suas ideias”, observou.
Para o presidente do CAU/RJ, Jeferson Salazar, a exposição resgata uma memória que foi negada durante anos. “Sérgio era um sonhador. E a utopia é fundamental nas nossas vidas. Sem ela, nos tornamos conformados. Sérgio Bernardes pensava a cidade para o futuro, para as gerações que virão. Como arquitetos e urbanistas precisamos ser inconformados para fazer cidades melhores e um direito de todos”, afirmou.
O presidente do Comitê Executivo da UIA2020Rio, Sérgio Magalhães, lembrou que Bernardes trabalhou com diferentes escalas, do mobiliário ao território. “Em uma época de tanto radicalismos, que o tema da cidade e do bem-estar possam unir as pessoas e trazer paz. Que a obra de Bernardes nos ajude a refletir sobre a cidade e a cultura arquitetônica”.
Lembranças e reflexões
A inauguração da exposição SB100 contou com o debate Viva Sergio Bernardes, reunindo pessoas que partilharam o ambiente de trabalho e o cotidiano com o arquiteto. O mediador da mesa, João Pedro Backhauser, reuniu casos engraçados e algumas frases instigantes de Bernardes para provocar a discussão, como: “Utopia é quando uma obra pode ser realizada amanhã ou daqui a cem anos. Realidade é quando pode ser feita” ou “Muita gente tem o know-how, mas pouca gente tem o know-why”.
Pablo Benetti contou que conviveu poucos, mas intensos anos ao lado de Sérgio Bernardes e que ele o influenciou em grandes decisões profissionais. Ele destacou o compromisso com a inovação de Sérgio Bernardes e com a busca por soluções estruturais. Lembrou ainda de um projeto que o arquiteto idealizou para casa em Campinas, mas que não chegou a ser construído, com tubos de ferro de duas polegadas e telhas de alumínio, que assustou um pouco o futuro morador. “Todo o dia tinha um desafio novo. Bernardes tinha uma alma inquieta e era muito acolhedor”, contou.
O arquiteto e urbanista Indio da Costa, que estava na plateia, também deu seu depoimento: “Sérgio Bernardes era uma pessoa extremamente magnética. Qualquer encontro com ele, gerava uma reflexão. Dizia sempre que o sonho é ilimitado, até mesmo porque leva tempo para que uma fantasia se torne realidade”.
Carlos Eduardo Nunes-Ferreira, diretor da Abea, recordou algumas experiências. “Eu levava alguns alunos para conversar com Sérgio sobre seus trabalhos de final de graduação e bastava uma frase para os estudantes quererem mudar tudo. Ele era um verdadeiro ‘desorientador’”, brincou. Segundo Cadu, o escritório de Sérgio Bernardes, na Barra da Tijuca, parecia uma nave espacial, onde se pensava o futuro. Lembrou também de outra frase emblemática de Bernardes, que inspira o cartaz da exposição: “O sol nunca se põe para o homem do futuro”.
Sobre Sergio Bernardes
Como livre pensador e “inventor social”, como gostava de se apresentar, Sergio Bernardes concebia a atividade de arquiteto em um campo ampliado “capaz de conectar o menor objeto de design à escala do país”.
Dedicou-se, ao longo de uma trajetória de quase 70 anos de vida profissional, a estudar o Brasil e, mais particularmente, o Rio de Janeiro, resultando em muitas propostas arquitetônicas e urbanísticas. Entre seus projetos no Rio estão o Pavilhão de São Cristóvão, os postos de salvamento da orla, o Parque Maria Cândida Pareto, o Edifício Casa Alta e o Sanatório de Curicica.
A exposição SB 100 é realizada pela Secretaria Municipal de Urbanismo, IRPH, Centro Carioca de Design, Bernardes Arquitetura; com patrocínio de Bernardes Arquitetura e apoio do CAU/RJ, da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRJ.
Serviço:
Exposição SB 100
Centro Carioca de Design
Praça Tiradentes, 48, Centro – RJ
Segunda à sexta, 10h às 19h.
Grátis. Até 1º de junho.