O segundo dia da Semana de Arquitetura e Urbanismo do CAU/RJ abriu espaço para o Encontro com a Sociedade. As atividades foram realizadas no Museu da República. A parte da manhã foi dedicada às oficinas de fotografia, com o assessor-chefe de Comunicação do CAU/RJ, Nicolas Braga, e desenho de observação, com o professor da UFRJ Roberto Houaiss. A conselheira do CAU/RJ Tanya Collado também preparou a oficina “A cidade que queremos”, voltada para crianças.
A programação da tarde começou com a roda de conversa Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social – A importância do fomento às organizações populares, com a participação de Jurema Constâncio, da União de Moradia Popular; Karine Amorim e Vitória Ribeiro, do Abricó, Escritório Modelo da UFRJ. A mediação foi do presidente do CAU/RJ, Pablo Benetti.
Jurema Constâncio falou sobre o mutirão de construção de habitações populares no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades e da cooperativa Shangri-lá. Enquanto as estudantes explicaram o funcionamento do EMAU e falaram sobre as comunidades atendidas, Solano Trindade, em Duque de Caxias e Indiana, na Tijuca. “A arquitetura precisa alcançar essas pessoas”, afirmou Vitória.
Patrimônio e Sociedade foi o tema da roda de conversa seguinte, com os convidados Mário Chagas, diretor do Museu da República; Sandra Maria, do Museu das Remoções; as arquitetas e urbanistas Cássia Rodrigues e Dora Alcântara, com mediação da vice-presidente do CAU/RJ, Noemia Barradas.
Sandra Maria relatou o processo de remoção de cerca de 700 famílias da Vila Autódromo para a construção da Transolímpica. Ela contou que os moradores possuíam títulos de concessão de uso por 99 anos renováveis pelo mesmo período. Além disso, a Lei Complementar 74, do Município do Rio de Janeiro, tornava a Vila Autódromo Área de Especial Interesse Social. O Plano de Urbanização Popular da Vila Autódromo também foi premiado internacionalmente. “Nenhum desses direitos foi suficiente para impedir a remoção”, afirmou.
No processo de remoção, segundo ela, foram cortadas 500 árvores, os serviços básicos foram suspensos, alguns moradores foram agredidos pela polícia e casas foram derrubadas, sem que os pertences dos moradores fossem retirados. “O Museu das Remoções, inaugurado no dia 18 de maio de 2016, nasce desse processo de resistência. Para preservar a memória e a história de populações ameaçadas pela remoção”, explicou.
A arquiteta e urbanista Cassia Rodrigues falou sobre como tornar o patrimônio uma prática comum. Noemia Barradas citou algumas experiências para desmistificar o patrimônio, como visitas guiadas realizadas em 2019, uma feira de ciências no Museu Nacional, além de oficinas de cartografia afetiva no CAU nos Bairros e CAU na sua Cidade e o Festival Interativo de Música e Arquitetura.
Já Mário Chagas, diretor do Museu da República, lembrou os 50 anos da mesa redonda em Santiago do Chile que pautava a função social do museu. “O patrimônio ainda guarda um ranço patriarcal. Precisamos avançar na direção do patrimônio, nos colocar em diálogo com o decolonial, com o comum compartilhado e gerar possibilidades de mudanças”, afirmou. A arquiteta e urbanista Dora Alcântara fechou a mesa, lembrando a história do Iphan, com a participação de Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade.
A última mesa, “Conversa com parlamentares: agenda urbana para o Rio de Janeiro”, contou com a presença do deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. Todos os deputados estaduais eleitos foram convidados para a mesa. Na conversa, mediada pela conselheira do CAU/RJ, Rose Compans, Luiz Paulo apresentou suas ideias sobre temas propostos pela Comissão Especial de Política Urbana do CAU/RJ, como habitação, mobilidade urbana, saneamento básico e meio ambiente.