Como resolver o problema de 11 famílias que se recusavam a sair das margens estreitas de uma área em processo de reurbanização? Para solucionar a questão, a arquiteta e urbanista Fabrícia Zulin elaborou o projeto de 11 moradias compactas no setor Novo Habitat, em Diadema (SP) sob supervisão do arquiteto e urbanista Milton Nakamura, secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura à época. “A área já possuía uma distribuição organizada de lotes, com exceção de um trecho que ficava bem na entrada do local, onde estavam 11 famílias que não aceitavam ir para conjuntos e que faziam questão de serem atendidas na área. Elas possuíam vínculos com aquele lugar e não viam razão para não continuar ali. Então surgiu o projeto das Casas Cubo”, relata a profissional.
O setor foi batizado pela própria população como Novo Habitat há quase 20 anos. No início da ocupação, eles se organizaram informalmente em uma associação de moradores e passaram a autoconstruir as moradias e a exigir melhorias do Poder Público. Anteriormente, no início dos anos 1990, a área abrigava uma cooperativa para compra comunitária de materiais de construção. “É um espaço complicado, tanto pelas exíguas dimensões como pela proximidade com uma indústria química vizinha”, afirma a arquiteta e urbanista.
A Prefeitura de Diadema iniciou o desadensamento do local em 2004, deslocando algumas famílias para outros loteamentos e conjuntos habitacionais. A área foi então fracionada em 88 lotes – e posteriormente em 120. Ao longo do tempo, uma parte da população ergueu moradias de alvenaria por conta própria. Por outro lado, 13 famílias de baixíssima renda se mantiveram em moradias precárias no local. Havia ainda outras 11 famílias, hoje proprietárias das casas cubo, que viviam em barracos às margens da área, em local não previsto para abrigar residências.
De acordo com Fabrícia Zulin, diante da prolongada situação dessas 11 famílias não havia alternativa senão reavaliar o projeto de reurbanização. A decisão levou em conta a criação de raízes das pessoas que ocupavam o local há tanto tempo. “A dúvida perdurava há anos: consolidar ou não consolidar aquele trecho? Era uma decisão que ninguém tomava e que ninguém se propunha a estudar”, relata.
Para incluir essas famílias na reurbanização, a arquiteta e urbanista propôs a construção de casas cubo, menores dos que as demais em razão do espaço estreito disponível. “O lote resultante foi de 5,5 por 5,0 metros, no qual foi proposto um sobradinho com muita qualidade”. Os 11 sobrados geminados contam com cozinha americana e lavanderia, no térreo, e dois dormitórios e banheiro, no piso superior, além de uma pequena sacada. Cada casa está pintada com uma das cinco cores da paleta e no início e no fim do conjunto geminado há painéis de artistas locais.
Além das 11 casas cubo, outras 13 casas retangulares, mas com tipologia parecida, foram projetadas no setor para as demais famílias que não haviam conseguido concluir as moradias em alvenaria. “No final, os projetos conseguiram atender a essas 24 famílias em condições extremamente precárias”, conta Fabrícia Zulin.
CONSTRUÇÃO
Elaborados em 2012, os projetos começaram a ser construídos em 2013 e foram finalmente inaugurados em janeiro de 2018. Durante esse tempo, os moradores receberam auxílio aluguel da Prefeitura para se manterem em outros lugares. Até a conclusão desta reportagem, entretanto, eles ainda aguardavam trâmites burocráticos da Prefeitura para ocupar definitivamente os imóveis.
“Confesso que toda vez que passava pela Avenida Ulisses Guimarães ficava olhando para ver se algo acontecia. Um dia vi as obras em andamento, trazendo grande alegria. E depois recebi uma mensagem entusiasmada de uma moradora dizendo: “Terminou! Venha visitar a minha casa!”. Foi uma das melhores visitas da minha vida”.
Uma das famílias que vão receber as moradias é a de Edilene Firmino, que chegou para morar no Novo Habitat há 17 anos. “Somos seis pessoas. Eu, minha filha, três netos e meu genro. Todos estamos muito felizes com a casa nova. Está tudo perfeito”, disse à reportagem da Prefeitura. O local do sobrado dela é o mesmo no qual ela morava antes das obras. “Chovia muito dentro daquele nosso barraco, que era bem precário”, relembra. A moradora Francisca Joelma, também beneficiada com uma das casas, já recebeu as chaves. “Melhor coisa. Sair do aluguel e de um lugar que não é nosso e ir para a casa própria é um sonho”.
Apesar da comemoração, Fabrícia ressalta que a urbanização e diversos problemas do local não foram solucionados. “As demais casas, infelizmente a maioria, são autoconstruídas e não receberam assistência técnica para a elaboração de um projeto adequado. Apesar da Lei de Assistência Técnica existir, quase não há fundos de financiamento”.
RESPONSÁVEL TÉCNICA
SÉRIE ESPECIAL DE REPORTAGENS
Esta reportagem é a primeira de uma série especial de reportagens do CAU/BR e dos CAU/UF que vai mostrar o trabalho de arquitetos e urbanistas que, superando orçamentos reduzidos e unificando diferentes opiniões, conseguiram desenvolver moradias dignas e de qualidade para as famílias mais necessitadas.
Você trabalha com projetos de habitação social? Por favor envie um e-mail para habitacaosocial@caubr.gov.br. Não se esqueça de inserir os autores dos projetos, contatos das pessoas envolvidas (arquitetos, autoridades e beneficiários), com um breve descritivo do projeto e até três fotos/ilustrações. O CAU/BR e os CAU/UF entrarão em contato para produzir reportagens especiais sobre os projetos.
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Arquitetura Social: CAU/BR e CAU/UF destacam projetos inovadores
Por Emerson Fonseca Fraga, Jornalista do CAU/BR
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