Alunos de diversas universidades e arquitetos e urbanistas participaram na quinta-feira, 9 de maio, da segunda edição de debates preparatórios para o 27º Congresso Mundial da União Internacional de Arquitetos, UIA2020Rio. O tema do evento, realizado no IAB-RJ, foi Fragilidades e Desigualdades, um dos eixos que serão abordados no Congresso. O debate foi promovido por quinze cursos de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro.
A mesa-redonda deste ciclo contou com a presença de Itamar Silva, morador e líder comunitário do Santa Marta; Regina Bienenstein, professora e coordenadora do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (Nephu) na UFF; e Rossana Tavares, professora e coordenadora do Núcleo de Estudos Urbanos da Baixada Fluminense (NEUB), professora da UFF e militante feminista, além do arquiteto e urbanista Pablo Benetti, como moderador.
Itamar Silva, líder comunitário e morador do Santa Marta, lembrou que até 1983, a maioria das casas não tinha banheiro. Só havia água durante uma hora pela manhã e uma hora no período da tarde. “A expectativa da sociedade é que esta população produza da mesma forma, mas como é possível?”, questionou. Ele afirmou, ainda, que a preocupação com as favelas sempre foi marcada por fatores externos a ela, como o medo da violência ou da contaminação por alguma doença, nunca foram os direitos de quem mora lá.
Para ele, as políticas nas favelas ainda são incompletas, geram melhorias nos territórios, mas, ao mesmo tempo, produzem outras dinâmicas como a expansão e o alargamento desses territórios. Itamar Silva lembrou que as obras que começaram no Santa Marta em 2008 ainda não foram concluídas. “Os espaços que eram destinados a equipamentos públicos, como praças, foram ocupados. Estamos falando de um local onde há déficit habitacional. Onde tiver espaço, ele será ocupado”, observou.
Rosana Tavares trouxe para o evento o debate do lugar de fala. Ela lembrou que, quando trabalhava na FASE, era constantemente questionada pelos moradores de favela sobre quem eles eram para saber o que os habitantes do local queriam. “Estamos em um momento de questionar nosso lugar como arquitetos e urbanistas em relação às fragilidades e desigualdades dos territórios”, provocou.
Militante feminista, ela também incluiu a questão do gênero em sua apresentação ao falar das dificuldades de muitas mulheres em deixar suas casas para participar, por exemplo, da associação de moradores. Citou Simone de Beauvoir, ao lembrar que a fragilidade das mulheres era considerada como um fato e a falácia da “histeria” feminina como justificativa de controle. Rossana usou a comparação para falar do que consideramos como áreas frágeis do território. “Consideramos a fragilidade das áreas periféricas como um fato. As pessoas que passam o dia nas cidades dormitórios não estão dormindo. Quem são essas pessoas? Como contribuir para reverter a lógica do pensamento único?”, questionou.
Já a coordenadora do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (Nephu) da UFF, Regina Bienenstein, lembrou que, desde a década de 60, se falava de uma cidade desigual, invisível para os órgãos públicos. “Vivemos em cidades que retratam no território a desigualdade no acesso a direitos”, avaliou. A professora fez um histórico das políticas habitacionais desde a década de 60, quando predominavam as remoções e a noção de limpeza dos territórios. “O golpe militar interrompeu as lutas por reformas de base, o movimento popular teve que buscar outra alternativa e se aproximou das universidades e da igreja, como no caso da Cruzada São Sebastião, no Leblon”, contou.
Na década de 70, Bienenstein destacou a presença do BNH e a construção de grandes conjuntos habitacionais em locais então periféricos que contribuíram para o esgarçamento da cidade e o surgimento de regiões, como Rio das Pedras e a Cidade de Deus. Em oposição, citou projetos como o Pedregulho, de Reidy, que pensava em uma nova forma de habitação popular. Ela lembrou também o surgimento do curso de arquitetura e urbanismo da UFF, já com duas disciplinas voltadas para a habitação popular e o surgimento do Nephu, para assessorar os moradores da Favela do Gato, em 1983.
Participam da organização do ciclo de debates, os cursos de arquitetura e urbanismo das universidades: IFF, UFRJ, UFRRJ, UFF, UERJ, Gama e Souza, IBMR, PUC-Rio, Silva e Souza, UGB, Unesa, Unigranrio, Unilasalle, Unisuam e UVA, com apoio da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), do CAU/RJ e do IAB-RJ.
Confira quando serão os próximos eventos:
EIXO 1 – Diversidade e Mistura: agosto de 2019
EIXO 2 – Mudanças e Emergências: 06 de junho e setembro de 2019
EIXO 3 – Fragilidades e Desigualdades: outubro de 2019
EIXO 4 – Transitoriedades e Fluxos: 23 de maio e novembro de 2019