O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro e o Departamento Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ) assinaram termo de fomento para patrocínio ao projeto “Seminário e exposição – Carmen Portinho”. O evento, a ser realizado no segundo semestre de 2024, abordará a memória, acervo e contribuição de Carmen Portinho para o urbanismo no Rio de Janeiro e no Brasil.
O projeto consiste na realização de uma jornada e pequena exposição organizada pelo IAB-RJ com o apoio do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM-Rio) e do Núcleo de Desenvolvimento e Pesquisa (NPD) da UFRJ que irão abordar as diversas áreas de atuação da engenheira e urbanista. O CAU/RJ repassará ao IAB-RJ o total de R$ 20 mil.
“A jornada e a exposição dirigem-se a resgatar e divulgar o papel protagonizado por Carmen Portinho em meados do Século XX, mulher à frente do seu tempo, por vezes esquecida, subvalorizada, ou mesmo pouco visível em seu desempenho, mas cuja trajetória reveste-se de extrema relevância até os dias de hoje. O projeto tem como objetivo principal ampliar o debate acerca do papel de Carmen Portinho, valorizando seu legado para as futuras gerações”, explicou Marcela Abla, presidente do IAB-RJ.
Segundo o presidente do CAU/RJ, Sydnei Menezes, Carmen Portinho é um ícone dos arquitetos e arquitetas servidores públicos, além de ter sido uma das primeiras mulheres a ganhar destaque na antiga capital federal. “O CAU/RJ aplaude esta iniciativa do IAB-RJ, pelo importante resgate desse registro histórico e pela divulgação do trabalho pioneiro de Carmen Portinho. Naquela época não era comum, como é hoje, uma mulher ocupar um papel de grande relevância na produção arquitetônica e urbanística. Carmen Portinho revela a verdadeira essência do servidor público e a importância desses profissionais para o desenvolvimento das cidades. Os arquitetos servidores têm um papel fundamental na elaboração de projetos e execução de obras públicas”, avaliou.
Patrona do urbanismo no Brasil, Carmen Portinho é uma das responsáveis pela introdução do conceito de habitação popular no país. Junto com o marido, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy, liderou diversos projetos que marcaram a história da arquitetura no país, como o Pedregulho, da Gávea, e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM).
O projeto inclui a produção de painéis para uma futura exposição permanente em suas obras, na cidade do Rio de Janeiro: Casa Carmen Portinho, os conjuntos residenciais Prefeito Mendes de Moraes, Gávea, Vila Isabel e Paquetá, Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ (ESDI-UERJ), MAM-Rio e, em Brasília, a proposta do plano piloto para a futura capital do Brasil publicado na Revista Municipal de Engenharia; além da publicação do material no site do IAB-RJ e do NPD-UFRJ.
“Essa iniciativa de promover a Carmen Portinho é fantástica até porque não está se promovendo apenas a pessoa importante para a cidade do Rio de Janeiro, como servidora pública, como profissional do urbanismo e da engenharia, mas também a participação feminina e a importância da mulher nas grandes obras da nossa cidade”, afirmou o senador Carlos Portinho, sobrinho-neto de Carmen e autor da lei que a tornou patrona do urbanismo. “Ela é uma daquelas heroínas que merecem todo o reconhecimento da sociedade, como muitos outros”, acrescentou.
Para o conselheiro do CAU/RJ, Paulo Saad, Carmen Portinho é um exemplo da importância de arquitetos e urbanistas e engenheiros na esfera pública. “O papel dos arquitetos e urbanistas no serviço público deveria ser entender o que o cliente quer. E quem é o cliente? A sociedade. Carmen Portinho estava na vanguarda no desenvolvimento de suas atividades como engenheira, em sua parceria com Reidy, como gestora da ESDI. Ela conseguia concretizar uma utopia, viabilizar o sonho por meio da técnica”, afirmou.
A Conselheira do CAU/RJ e vice-presidente da Abea-RJ, Kátia Farah, lembrou que Carmen Portinho foi uma das uma das fundadoras da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (Abea) e primeira presidente mulher da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj). “Sufragista, pioneira do direito das mulheres engenheiras e arquitetas na profissão, lutou contra violência contra as mulheres, já naquela época”, ressaltou.
“Sempre na vanguarda, à frente do seu tempo, desde a década de 20 e 30, já defendia o empoderamento feminino, hoje, ODS da agenda 2030 da ONU”, complementou a presidente da Abea-RJ, Iara Nagle.
Quem foi Carmen Portinho?
Carmen Portinho nasceu em Corumbá (MS), em janeiro de 1903, e foi pioneira em sua formação acadêmica, engenheira, crítica de arte e primeira mulher a receber o título de urbanista. Sua atuação profissional deixa o legado de obras realizadas enquanto diretora do Departamento de Habitação Popular, como o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes e o Conjunto Residencial da Gávea, cujos projetos arquitetônicos ficaram sob responsabilidade de seu companheiro, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy, diretor do Departamento de Urbanismo. O Museu de Arte Moderna do Rio também é fruto da parceria entre a engenheira e o arquiteto.
Pioneira na luta feminista, Carmen Portinho fundou em 1922 a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que buscava a igualdade entre os sexos e a independência da mulher. Defendendo a ideia de que a emancipação econômica da mulher é a base de sua emancipação social e política, Carmen protagonizou ações e conquistas liberalizantes e inovadoras que continuam a nos inspirar na defesa de um país inclusivo, generoso e equitativo. Conquistou o direito das mulheres ao voto junto a Berta Lutz.
A trajetória de Carmen Portinho foi marcada pelo interesse em questões habitacionais e do urbanismo moderno da primeira metade do século XX. Temas discutidos nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAMs), seus conceitos de cidade e de um novo modo de habitar adquirem ênfase em política habitacional, formulada e administrada por uma mulher engenheira e planejadora urbana para a cidade do Rio de Janeiro. Ela também foi uma das fundadoras da Revista da Diretoria de Engenharia (Revista Municipal de Engenharia), cuja primeira edição foi publicada em julho de 1932.