O Conselho de Arquitetura do Rio de Janeiro se manifesta em favor do Projeto de Lei Estadual Nº 4670/2021, de autoria dos deputados Martha Rocha e Eliomar Coelho. O PL propõe o tombamento do imóvel onde está situado o Cinema Guaraci como patrimônio do Estado do Rio de Janeiro, por interesse histórico, artístico, arquitetônico e cultural.
Localizado em Rocha Miranda, na Zona Norte do município do Rio, o imóvel encontra-se em um estado de lamentável abandono, sendo ameaçado de ser transformado em uma loja de departamento. O cinema foi projetado por Alcides Rocha Miranda, da família que promoveu o loteamento do bairro no começo do século XX, e inaugurado em 1953. O prédio possui características típicas dos anos dourados do cinema: escadas em mármore carrara, com corrimão de bronze, salão de espera decorado com espelhos em alto relevo. A sala de projeção, com 1300 lugares, divididos entre mezanino e térreo, é decorada com colunas gregas.
Desde 2012, o Movimento Pró Cine Guaraci, que reúne a Associação de Moradores de Honório Gurgel, Coelho Neto e Rocha Miranda; o Centro Cultural de Coelho Neto; o Movimento Cine Vaz Lobo; Ponto Cine Guadalupe; a Associação Comercial de Madureira e outras organizações da sociedade civil, luta para revitalizar o espaço e transformá-lo em centro cultural, nos mesmos moldes do que foi feito no Imperator, atual Centro Cultural João Nogueira, no Méier. Nesta época a gestão de Eduardo Paes havia proposto o programa CineCarioca, para revitalização de cinemas de rua abandonados na Zona Norte do Rio. Ressalta-se, ainda, que o bairro onde o Cine Guaraci está situado não possui outro equipamento cultural.
Recentemente, o CAU/RJ e outras entidades de arquitetura e urbanismo, manifestaram apoio para que o cinema Estação NET Rio, em Botafogo, não fosse transformado em um condomínio residencial. Após os apelos de diversos grupos, a prefeitura anunciou o tombamento do imóvel e a inscrição dos três complexos de salas do Estação (Botafogo, Rio e Ipanema) no Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis, que preservaria a atividade dos imóveis como cinemas.
Como afirmamos na ocasião, os cinemas de rua são muito representativos da relação afetiva da sociedade com os edifícios que compõem a cidade e, infelizmente, têm sido perdidos a passos largos. A preservação dos imóveis e seus usos, ambientes ou paisagens numa cidade atende à necessidade do ser humano, como integrante de um grupo social, de salvaguardar sua identidade. Cinemas são parte da cidade, da memória dos moradores de um bairro e daqueles que frequentaram o local durante muitos anos. A cidade precisa dessa mistura de usos, espaços comerciais, culturais, residenciais etc. que fazem das ruas o local da diversidade e da vitalidade urbana.
Reiteramos que o fechamento de cinemas de rua diminui a riqueza cultural das cidades, empobrece nossa paisagem urbana e atenta contra o patrimônio seja o edificado, seja o das memórias. É necessário pensar formas de acautelamento e proteção, para além do tombamento físico, que possibilitem a manutenção dos usos, a serviço do interesse público, destes espaços que conjugam valores culturais e afetivos a uma estrutura física, necessária para que continuem existindo.
Mais uma vez nos posicionamos a favor da cultura e da preservação do patrimônio cultural. Defendemos o Projeto de Lei Estadual Nº 4670/2021, que prevê o tombamento do Cine Guaraci e manifestamos nosso apoio aos movimentos populares que lutam pela cultura e por cidades mais democráticas e plurais.