Madureira foi o bairro escolhido para receber o primeiro CAU no Bairro de 2023. De 29 a 31 de março, o Conselho realizou diversas atividades voltadas a profissionais, estudantes e à sociedade na Nave do Conhecimento, no Parque Madureira.
Na mesa de abertura, o presidente do CAU/RJ, Pablo Benetti, destacou a importância de dar continuidade ao CAU no Bairro, iniciado em 2022. “O CAU no Bairro é uma ação que busca aproximar o Conselho dos profissionais e da sociedade por isso a importância de realizá-lo em uma área central como Madureira, com vários desafios urbanísticos que vão ser discutidos nesses três dias como patrimônio, meio ambiente, cultura e habitação”, declarou. Ele também ressaltou a realização da primeira Imersão Solare. “50 estudantes de graduação aceitaram o desafio de apresentar um projeto básico, para habitação de interesse social (HIS), utilizando softwares livres. Estamos ansiosos pelos resultados”, afirmou.
“Estamos aqui no coração de Madureira para produzir e discutir tecnologia, juntando software livre e HIS, de forma a mudar um cenário e contribuir para o futuro”, acrescentou Tanya Collado, vice-presidente do CAU/RJ. Danilo Firmino, administrador da Nave do Conhecimento, falou sobre a importância de democratizar as políticas públicas e do simbolismo de debater o subúrbio no Parque de Madureira, fruto de uma intervenção urbanística.
Dia 1: cultura suburbana
O primeiro dia de CAU no Bairro foi permeado por diversas representações da cultura suburbana. O evento começou com a Roda de Conversa Forma Urbana e Bairros Negros, com a participação de Rogério Rodrigues, da Portela; do professor Henrique Cunha da UFBA e Dyonne Boy, do Jongo da Serrinha. A mesa foi mediada pela coordenadora da comissão de Equidade e Diversidade do CAU/RJ, Alyne Reis.
Rodrigues falou sobre o departamento cultural da escola de samba, en quanto Dyonne contou sobre a fundação da Serrinha, uma das favelas centenárias do estado e de como o jongo, um dos primeiros patrimônios imateriais da humanidade, é também um instrumento de conquista social. Ela lamentou, ainda, que a casa do Jongo da Serrinha está fechada desde a pandemia, necessitando de reformas estruturais. Já o professor Henrique Cunha lembrou que o Brasil é uma construção das culturas de bases africanas.
A parte da tarde foi dividida entre o minicurso de contratos, ministrado pelo servidor do CAU/RJ, João Balsini, a oficina de cartografia afetiva e o percurso urbano, guiado pela arquiteta e urbanista Karolynne Duarte. Durante a caminhada, os participantes visitaram a quadra da Portela e ficaram sabendo mais sobre a história da escola e sobre a criação do Parque Madureira.
A última roda de conversa do dia, Ser suburbano, foi mediada pela arquiteta e urbanista Melissa Alves, que perguntou aos participantes – a artista plástica Bea Machado, os arquitetos e urbanistas Karolynne Duarte e Rodrigo Bertamé, e o historiador Rafael Matoso – o que é ser suburbano e quando eles começaram a se sentir suburbanos.
“Nunca me senti não-suburbano. O subúrbio é polissêmico e muito amplo. Continuam repetindo pra gente que o subúrbio é um lugar sub-urbanizado, mas 85% da população mora nesses territórios”, respondeu o historiador Rafael Matoso. Já Bertamé afirmou que se sentiu suburbano ao chegar na faculdade de arquitetura e viu que esta parte da cidade não estava contemplada nos seus estudos. “Em um primeiro momento não tinha orgulho de ser suburbana. É como se existisse apenas uma maneira de existir”, lembrou Bea Machado.
O dia foi marcado, ainda, pelo reconhecimento dos Trabalhos Finais de Graduação (TFGs) que foram selecionados para exposição no Parque Madureira. A programação foi encerrada com apresentação de Jongo da Serrinha.
Dia 2: acessibilidade e sustentabilidade
A quinta-feira começou com o já tradicional workshop de acessibilidade, em que os participantes são convidados a vivenciar a experiência de cadeirantes e pessoas com deficiências visuais e auditivas para refletir sobre o espaço urbano. À tarde, os arquitetos e urbanistas presentes puderam esclarecer suas dúvidas sobre a emissão do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) no minicurso ministrado pela Gerente Técnica do CAU/RJ, Maria Carolina Mamede.
As duas rodas de conversa que se seguiram debateram clima, arborização e conforto e os parques urbanos. A primeira contou com a presença dos conselheiros do CAU/RJ, Sofia Eder e Leonam Estrella e do doutorando do Prourb, Lúcio Dias Bastos. Já o debate sobre os parques teve a participação do arquiteto e urbanista Roberto Rocha, da Associação Permanente em Defesa do Meio Ambiente, a arquiteta e urbanista Karolynne Duarte e a vice-presidente do CAU/RJ, Luciana Mayrink, representando a secretária de Meio Ambiente (SMAC), Tainá de Paula. A proposta de concessão de sete parques municipais pela prefeitura, incluindo o Parque Madureira, foi um dos temas debatidos, bem como os usos do parque e as propostas da SMAC para 2023.
A última palestra do dia foi do arquiteto e urbanista Dietmar Starke, que projetou a Nave do Conhecimento. “Quando recebi o convite até me belisquei. Pensei ‘será que o CAU vai fazer mesmo um evento dentro da Nave’?”, brincou. “Para mim é um grande reconhecimento”, completou. Ele contou um pouco de sua trajetória, que inclui um mestrado na Universidade de Artes de Berlim, o projeto do Centro de Mulheres do Mundo Islâmico no Egito que lhe rendeu uma ameaça de morte, um projeto da Bauhaus no Jacarezinho e as Naves do Conhecimento, que realizou como servidor da RioUrbe.
Dia 3: software livre e atuação em Madureira
O último dia de CAU no Bairro contou com a oficina de fotografia e audiovisual “Olhar do Bairro”, promovida pelos arquitetos e urbanistas Barbara Boy e Marco Reis. Eles falaram da relação do cinema com outras artes e apresentaram diversas referências cinematográficas, destacando técnicas de fotografia e montagem. No final da atividade, os participantes foram desafiados a fazer um storyboard com três cenas retratando o bairro onde moram.
À tarde, a arquiteta e urbanista Sônia Lopes deu dicas sobre o que considerar na hora de precificar um serviço de arquitetura para uma plateia repleta de estudantes e recém-formados. Em seguida, foi a vez de Danilo Matoso, da Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas e Allan Britto, consultor do Solare, apresentarem os benefícios dos softwares livres para arquitetura e engenharia.
O momento mais aguardado da noite foi o resultado da Imersão Solare. Primeira maratona de softwares livres para construção civil promovida pelo CAU/RJ, a iniciativa contou com a participação de cerca de 50 alunos de nove instituições de ensino. A imersão começou com uma capacitação na sede do Conselho, nos dias 27 e 28 de março.
Ao longo dos três dias de CAU no Bairro, as equipes se reuniram para desenvolver um projeto básico de habitação em interesse social em uma área específica de Madureira, utilizando softwares livres. A equipe do IFF Campos recebeu menção honrosa. Os estudantes da Unisuam ficaram em terceiro lugar; da Unesa – Nova Friburgo, em segundo. O primeiro lugar ficou com a equipe da Puc-Rio. O júri destacou a “boa conformação do espaço entre a edificação criando uma espécie de pátio comum, além de duas tipologias – 1 e 2 quartos. A orientação noroeste recebe uma preocupação de proteção, a importante conexão do vazio urbano com o terreno que conecta às festividades e comércios existentes no local”.
Para fechar a programação do CAU no Bairro, arquitetos locais contaram suas experiências e as tentativas de popularizar a profissão, alcançando outros públicos. Participaram da mesa os arquitetos e urbanistas Bernardo Ferraz, Roberta Domingos, Marina Alves, Melina Silva, Jennifer Gomes e Patricia D’Elia.