Quando a Redes da Maré começou a campanha “Maré diz não ao coronavírus”, em março, a expectativa era distribuir cestas básicas a famílias que já participam de programas da organização não-governamental e de outras redes parceiras, chegando a cerca de seis mil famílias. A organização divulgou um número do Whatsapp para que as pessoas se cadastrassem e solicitassem o auxílio. O resultado foi muito maior que o esperado. Em duas semanas, 17 mil famílias já haviam solicitado a cesta básica.
“Na Maré moram 140 mil pessoas e muitas delas vivem de subemprego. É a faxineira, é o guardador de carro. Muitas já vivem no limiar da miséria, mas ainda conseguiam ter algum dinheiro. Com o isolamento social, elas estão sem nada. Quando vamos entregar as cestas, vemos que elas não têm nada em casa”, contou Fernanda Viana Araújo, moradora da comunidade, integrante da Redes da Maré e uma das 300 pessoas voluntárias da campanha.
A Redes da Maré é uma instituição que atua nos eixos de educação, arte e cultura, direito à segurança pública e acesso à justiça e desenvolvimento territorial, mas diante da pandemia, criou a iniciativa para atender aos mais vulneráveis. “Nosso trabalho na Redes busca abrir um leque de possibilidades para que o morador de favela possa ser o que quiser e alcance a cidadania plena, mas, quando começou o isolamento, ficávamos lembrando das pessoas e pensando em como elas iam sobreviver. A gente ficava pensando: ‘e dona fulana’? A gente, que mora aqui, estava muito angustiada com essa situação. Eu trabalho e ganho meu dinheiro, mas isso poderia estar acontecendo comigo”, acrescentou Fernanda.
Até o momento já foram entregues 323 toneladas de alimentos, mais de 7 mil kits de higiene e 7.500 frascos de álcool-gel. Diariamente, a campanha também distribui 200 quentinhas para os moradores de rua e usuários de crack da região. As refeições são feitas pelas mulheres do Maré de Sabores, que perderam suas rendas em função do cancelamento de todos os eventos do bufê, e recebem uma ajuda de custo. Para o segundo mês da campanha, está prevista, ainda, a distribuição de máscaras feitas por costureiras da própria comunidade e arrecadação de materiais de EPIs para os profissionais de sete unidades básicas de saúde e uma Unidade de Pronto Atendimento da Maré.
“Há uma dificuldade evidente das populações de favelas e periferias em atender os protocolos da Organização Mundial de Saúde (OMS) para prevenir o contágio. Muitas pessoas moram espaços pequenos, sem ventilação, precisam sair para trabalhar, avós ficam cuidando de crianças, há falta de água e de serviços públicos básicos como saneamento e coleta de lixo. Além disso, são territórios onde as pessoas ficam muito na rua e há pessoas que não têm condições de comprar os insumos básicos de higiene – o que dirá álcool-gel”, explicou a diretora da Redes da Maré e coordenadora da campanha, Eliana Silva. “Algo que temos falado muito é que esta vulnerabilidade das favelas e periferias é histórica, fruto da negação de direitos básicos a estes territórios, o que faz com a que a situação fique mais crítica em momentos como este”, acrescentou.
Campanhas de conscientização dos moradores também estão sendo realizadas, como a “Se liga no corona”, em parceria com a Fiocruz, com materiais gráficos sobre prevenção, impressos e online, no jornal Maré de Notícias, spots para carros de som e rádios comunitárias entre outros. Por Whastapp, o canal “De Olho no Corona!” oferece orientações e permite denúncias de dificuldades de acesso aos equipamentos de saúde na Maré. “As orientações da OMS são importantíssimas e precisam ser colocadas em prática, mas elas atingem um determinado público. As populações de favelas e periferias precisam de um outro tipo de abordagem, de olhar, de comunicação neste momento. É preciso olhar para as especificidades de cada local e ficar atento para que atinja de forma eficaz estas populações”, complementou Eliana.
A campanha “Maré diz não ao coronavírus” é uma iniciativa da Redes da Maré, em parceria com instituições e pessoas físicas, como 342 Artes, o movimento Rio Contra Corona, Grupo Ação Impacto, Brazil Foundation, Instituto Unibanco, Itaú Social, Grupo Luxor, Urbanistas contra o Corona e Welight. Além dessas, são parceiras organizações que atuam na região, como as Associações de Moradores, Coletivo Maré Vive, Luta pela Paz, Observatório de Favelas, Uerê, entre outras, e de doadores individuais.
Como contribuir?
Pessoas ou empresas que queiram doar alimentos, água, itens de higiene pessoal ou de limpeza de ambientes podem entregar as doações no Centro de Artes da Maré (Rua Bittencourt Sampaio, 181. Nova Holanda, Maré), às terças e quintas-feiras, entre 14h e 17h. Para mais informações, os interessados devem entrar em contato pelo e-mail parcerias@redesdamare.org.br ou pelo telefone (21) 99907-3154.
Também é possível fazer transferências bancárias, com os dados abaixo:
Associação Redes de Desenvolvimento da Maré
CNPJ: 08.934.089/0001-75
Banco do Brasil – 001
Agência: 0576-2
Conta Corrente: 160.568-2
Banco Itaú S/A – 341
Agência: 0023
Conta Corrente: 543.38-2
Mais informações: www.redesdamare.org.br