Aldeia do povo Yawanawá, no Acre. Foto de Diego Gurgel, da Secom do Governo do Acre
Para celebrar o Dia dos Povos Indígenas, no dia 19/04, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) dá início a uma série de reportagens que mostra a Arquitetura Indígena e como ela inspira o trabalho de diversos profissionais de Arquitetura e Urbanismo. A ideia é abordar as diferentes formas de moradia indígena com soluções sustentáveis, escolhas de materiais e adaptações às condições ambientais nas comunidades de acordo com o contexto local.
Arquitetos, urbanistas e estudantes têm muito a aprender com os modelos construtivos dos povos indígenas que, desde o descobrimento do Brasil, foram registrados no primeiro documento escrito da história do país: a Carta de Pero Vaz de Caminha.
Na ocasião, os episódios narrados por Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral (1467/1468-1520) ao rei de Portugal, Manuel I, registram as impressões sobre a terra que posteriormente viria a ser chamada Brasil e como viviam os habitantes da Terra de Vera Cruz.
De acordo com o documento, apesar da resistência inicial em permitirem aos portugueses visitar suas aldeias, algumas descrições puderam ser feitas. A quantidade de casas que eram poucas, mas que eram tão compridas que pareciam naus foi citada em seu relato. Ele descreve que em cada uma moravam entre 30 e 50 pessoas. Além disso, chamou a atenção de Caminha o fato de em seu interior não serem levantadas quaisquer divisórias. Somente se encontravam ali “muitos esteios”, nos quais estavam penduradas as redes em que dormiam.
Arquitetura, antropologia e tecnologias indígenas
“As aldeias indígenas são as primeiras cidades brasileiras”, destaca José Afonso Botura Portocarrero, arquiteto, ex-conselheiro federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e professor titular aposentado da Universidade Federal do Mato Grosso (MT).
Portocarrero dedicou trabalhos e pesquisas na área de Arquitetura Indígena. É autor da obra “Tecnoíndia: Arquitetura, antropologia e tecnologias indígenas em Mato Grosso”, que reúne ao longo de mais de 20 anos de pesquisas e ensino sobre tecnologias e arquitetura indígenas ele diz que as aldeias indígenas são as primeiras cidades brasileiras.
“A moradia indígena é a primeira casa brasileira. Existe uma diferençazinha entre uma e outra, mas uma coisa interessante também é que na aldeia todas as casas são iguais”, explica Portocarrero.
O que diferencia uma aldeia e outra entre as comunidades indígenas brasileiras é a condição climática e a escolha de materiais locais. Uma das características das casas indígenas é sua construção integral com materiais vegetais.
A maior parte das aldeias utiliza a amarração de cipós nas estruturas de madeiras e entalhes no madeiramento das estruturas para facilitar o encaixe das peças. Geralmente, as habitações são dispostas em um formato ortogonal nas aldeias, formando uma grande praça central na qual a comunidade realiza atividades cotidianas como festas, cerimônias e rituais sagrados.
Uma única aldeia pode chegar a ter aproximadamente 400 moradores. Suas casas são chamadas de oguassu, majoca ou maloca (casa grande), cujo tamanho pode chegar até 150 metros de comprimento com 12 metros de largura. Cada maloca é dividida internamente em espaços menores, de mais ou menos 36 metros quadrados, onde reside uma família. Esse espaço recebe o nome de oca (tupi) ou oga (guarani).
Na tradição indígena, os homens são responsáveis por construir e erguer a estrutura das malocas enquanto as mulheres socam o barro a ser assentado no chão das habitações.
(Fonte: CAU Brasil – Com informações do CAU/RN e da USP)