Começou. De hoje até sexta-feira, o Centro Histórico de São Luís (Maranhão) se torna o epicentro das discussões sobre conservação e reuso do Patrimônio Arquitetônico no Brasil e em Portugal. Com o tema “Diversidade em diálogos permanentes”, o 9º Fórum Internacional de Patrimônio Arquitetônico (FIPA) reúne os mais importantes pesquisadores da área de patrimônio dos dois países, em uma troca de conhecimentos e experiências vibrante e intensa. Objetivo é trazer à tona as técnicas e soluções mais recentes, unindo inovação e tradição.
O FIPA foi idealizado pelas arquitetas Maria Rita Amoroso, brasileira, e Alice Tavares, portuguesa, com o objetivo de fortalecer a relação entre Portugal e Brasil no campo do patrimônio, discutindo técnicas construtivas e promovendo a valorização, conservação e salvaguarda de bens materiais e imateriais nos dois países. “O FIPA certifica a força da união Brasil-Portugal. Trabalha a diversidade das culturas que nos faz progredir juntos. Diálogos conscientes, resilientes, históricos e artísticos”, disse Maria Rita na solenidade de abertura.
A sessão solene de abertura do FIPA contou com a presença de autoridades importantes, como José Luis Cortés, presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA); Eduardo Braide, prefeito de São Luís; Nadia Somekh, presidente do CAU Brasil; Gonçalo Byrne, presidente da Ordem dos Arquitectos de Portugal (OA-PT); Aníbal Costa, coordenador-geral do FIPA em Portugal; Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Rafael Passos, vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB); entre outros representantes do setor.
PROTEGENDO A HISTÓRIA
O presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA), José Luis Cortés, parabenizou os organizadores do FIPA pelos resultados alcançados ao longo dos anos. “Como vocês sabem, proteger o Patrimônio Histórico foi a missão que norteou a criação da UIA em 1948. A Europa estava destruída pela Guerra. Unimos 120 países nessa missão e desde então temos trabalhado com esse tema em todo o mundo”, disse. Ele também destacou a importância dos centros históricos para o debate sobre sustentabilidade e mudanças climáticas.
“Este evento integra três vértices da minha vida: patrimônio, pesquisa científica e militância profissional”, disse a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh. “Não podemos esquecer que a questão do patrimônio é uma questão urbana. O Brasil precisa de Arquitetura e Urbanismo. Não falta trabalho para os arquitetos realizarem. Precisamos sensibilizar a população sobre a Arquitetura, sobre o Patrimônio e sobre a Amazônia”.
Coordenador do do FIPA Portugal e professor da Universidade de Aveiro, Aníbal Costa enfatizou a dificuldade de colocar o conhecimento acadêmico em prática, em aproximar a teoria da realidade. “É difícil colocar esse conhecimento na utilização do dia a dia. Essa é uma dificuldade que existe em Portugal e no Brasil”, afirmou, reforçando a necessidade de unir esforços em eventos como o FIPA, para conservar e salvaguardar o patrimônio histórico.
REVITALIZAÇÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS
Leandro Grass, presidente do Iphan, destacou que o Patrimônio deve ser discutido com vistas à promoção da cidadania. “Que as tecnologias e conhecimentos aqui debatidos possam servir à cidadania, com foco no ser humano. O Patrimônio é a história das pessoas, suas esperanças e seus sentimentos”, disse. Conforme ele anunciou no II Seminário de Patrimônio Histórico, o Governo Federal vai investir na revitalização dos Centros Históricos para transformá-los em espaços de oportunidades. “As pessoas são a grande riqueza.”
A presidente da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico do Maranhão (FUMPH), Katia Bogéa, destacou o empenho da Prefeitura em trazer o FIPA para São Luís, cidade que mistura influências arquitetônicas de povos indígenas, europeus e africanos. “Disputamos por um ano a candidatura para trazer o FIPA ao Maranhão. Este evento traz as melhores cabeças na área de Patrimônio no mundo”, afirmou.
O prefeito de São Luís, Eduardo Braide, agradeceu aos arquitetos e urbanistas por escolherem a cidade como sede do FIPA Brasil – Portugal. “Nosso Centro Histórico às vezes não tem vida, e estamos tentando recuperar isso. Recentemente, restauramos dois casarões abandonados, em parceria com o Iphan, para criar unidades de habitação de interesse social”, disse. “São Luís é uma fonte preciosa de ensinamentos. É muito importante ver a nossa história ser contada pela Arquitetura”.
RESILIÊNCIA vs. VULNERABILIDADE
Destaque do primeiro dia do 9º FIPA foi a palestra proferida pelo arquiteto e urbanista português Gonçalo Byrne, presidente da OA-PT, intitulada “Vulnerabilidade e resiliência do patrimônio arquitetônico construído no Brasil”. Dono de um renomado escritório, sua produção inclui obras de restauração como: a intervenção no Palácio de Estoi no Algarve, no antigo Hospital de São Teotónio em Viseu, e no Mosteiro de Alcobaça. Seus resultados alcançados foram reconhecidos com prêmios como o Prémio Valmor 2000 (da Câmara Municipal de Lisboa) e o Prémio Diogo de Castilho 2008 (da Câmara Municipal de Coimbra). Em 2000, recebeu a Medalha de Ouro da Academia de Arquitectura de França.
Durante sua palestra, Gonçalo Byrne enfatizou que o patrimônio edificado é altamente vulnerável. “Se não for feito nada para interromper esse ciclo, ele gradualmente perde sua vitalidade e vai se transformando em ruínas”, disse. Ele enfatizou que a resiliência é essencial para enfrentar os desafios climáticos e econômicos, “Restaurar, resgatar, ressignificar e refundar. Não se trata apenas de resistência, mas da capacidade de renascer das cinzas e se reconstruir”.
Ele citou como exemplo as áreas portuárias que perderam o trânsito de navios e barcos, as quais oferecem um grande potencial para reabilitação, por meio de um novo uso das instalações existentes. Para ilustrar esse conceito, compartilhou lições aprendidas com a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755. Foi preciso construir uma cidade nova em uma área desocupada, seguindo o princípio do Marquês de Pombal: “Primeiro, enterra-se os mortos, depois se cuida dos vivos”. Essa renovação possibilitou a criação de um novo desenho urbano, com ruas mais limpas, ampla iluminação natural e infraestrutura de água e esgoto.
ECONOMIA CIRCULAR
O arquiteto português também apresentou três projetos de seu escritório, que envolviam a reabilitação de quarteirões da Arquitetura Pombalina, datados da época da reconstrução de Lisboa. Além disso, ele mencionou o trabalho do renomado arquiteto português Álvaro Siza Vieira, vencedor do Prêmio Pritzker, que coordenou o Gabinete de Reabilitação em Portugal, contribuindo para a preservação e revitalização do patrimônio arquitetônico no país.
Deixou também mensagem de otimismo, ressaltando que a crise climática exigirá uma transição para uma economia mais circular, buscando soluções que respondam aos desafios ambientais e econômicos. “Não há outra saída para a crise climática, ela terá de ser possível. Para enfrentar os desafios da sustentabilidade ambiental e econômica, teremos que transitar para uma economia mais circular. E isso tem tudo a ver com a questão do patrimônio: restaurar, resgatar, ressignificar e refundar”.
O Fórum Internacional de Patrimônio Arquitetônico Brasil – Portugal se estenderá até o dia 16 de junho, com uma programação repleta de palestras, mesas-redondas e atividades interativas, proporcionando oportunidades para o compartilhamento de conhecimentos e experiências entre arquitetos e urbanistas, gestores públicos, pesquisadores e estudantes.
Confira a programação completa aqui.
ATENÇÃO: O evento está sendo transmitido AO VIVO pela Fundação Municipal de Patrimônio Histórico do Maranhão (FUMPH) no seu canal do Youtube.
Veja abaixo a íntegra da Cerimônia de Abertura: