O Conselho de Arquitetura de Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ) é crítico à proposta de retirada da coleção científica do Paço de São Cristóvão para tornar o palácio em centro turístico dedicado à família imperial.
O Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do Brasil e espaço de desenvolvimento de ciência de ponta nas mais diversas áreas do conhecimento, como antropologia social, arqueologia, zoologia e botânica. Ou seja, sua importância vai além da salva guarda de acervos, da memória e da história do país e do mundo. Desprezar o papel histórico e científico desta instituição centenária significa não reconhecer a cultura e a ciência nacional.
Criado em 1818 por D. João VI o Museu Nacional tem com o objetivo de “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil”, de acordo com seu Alvará de fundação. Por sua vez, o Imperador D. Pedro II usava o Museu para acolher pesquisadores e autoridades de todo o mundo, além de contribuir decisivamente para o aumento de suas coleções científicas, que inclui um dos maiores meteoritos descobertos no planeta, o Bendegó, além de artefatos arqueológicos que possibilitam a compreensão da formação do território e da sociedade brasileira, como o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado na América do Sul.
Tal iniciativa, articulada por personagens interno e externos do governo federal, conforme revelada na matéria da Folha de S. Paulo de 26 de março (clique aqui), pode denotar interesses nada republicanos com a desconfiguração do caráter do Museu Nacional. Se levada a cabo, este pode vir a ser um golpe mais danoso à instituição e à nação do que o trágico incêndio de setembro de 2018, que destruiu parcialmente o edifício e o acerto do museu, deixando todo o país atônico.
Em nota, o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro entende que o projeto Museu Nacional Vive está estruturado de forma a atender aos diferentes interesses e expectativas que se estabelecem em torno dessa importante instituição científica e cultural e o seu edifício-sede. “O projeto que está sendo desenvolvido coletivamente estabelece o restauro respeitoso do Paço de São Cristóvão como patrimônio tombado pelo IPHAN, mas também a reconstrução simbólica do Museu Nacional, adequado às expectativas colocadas desde a sua criação por D. João VI e em consonância com as demandas museais contemporâneas”, afirma o documento.
Destacamos e reconhecemos o vínculo entre o Museu Nacional e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que detém autonomia didática, científica e de administração financeira sobre a primeira. É louvável o esforço da UFRJ, com o apoio de instituições brasileiras e estrangeiras, na reconstrução e restauro do Paço de São Cristóvão. Conforme nota divulgada pela reitoria da UFRJ, “a grosseira intenção presumida (de intervenção no Museu Nacional, destaque nosso) configuraria não só ato descabido, mas também tirânico contra a autonomia universitária, garantida pela Constituição”.
Este Conselho espera que a autonomia universitária e o projeto Museu Nacional Vive sejam respeitados. Além de atender aos diferentes interesses e expectativas estabelecidos no entorno do museu, a reconstrução do palácio dará não só a cidade do Rio de Janeiro, mas ao país, um espaço moderno para o desenvolvimento de saberes, além de novas áreas expositivas em que apresentará aspectos referentes à história da ciência no Brasil, a história do Museu Nacional e a história do Palácio de São Cristóvão, contextualizado a relação Museu Nacional e a família imperial.