Primeira cidade a receber o título de Capital Mundial da Arquitetura e sede do 27º Congresso Mundial de Arquitetos – UIA2020RIO, o Rio de Janeiro está no “trending topics” da arquitetura internacional. A posição de destaque não se justifica por sua rica e diversificada produção cultural, mas por reunir os principais desafios urbanísticos deste século. Tal contexto foi objeto de reflexão em encontro promovido pela Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj), na terça-feira, 19 de março, que contou com contribuições da arquiteta e urbanista Margareth Pereira e dos vice-presidentes do CAU/RJ Isabel Tostes e Lucas Franco.
Apesar de a designação ter sido recebida pelos arquitetos e urbanistas do Brasil com entusiasmo, verificou-se também críticas. Para Lucas Franco, a atual discussão urbanística está presente de forma muito evidente na capital fluminense, o que não ocorre em cidades mais estruturadas como Paris e Melbourne, bem planejadas, com vias rodoviárias largas e malha de transporte diversificada e conectada. “É aqui que podemos discutir e buscar alternativas para territórios como, por exemplo, Rio das Pedras. Área com grande densidade populacional, ambientalmente frágil, dominada pela milícia e sem infraestrutura adequada. É no Rio que construímos o Museu do Amanhã e vemos o Museu Nacional pegar fogo”, afirmou.
No encontro, Isabel Tostes lembrou que o título integra proposta apresentada pela Prefeitura do Rio de Janeiro e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) à União Internacional dos Arquitetos, órgão consultivo da Unesco, para 2020. “A designação será entregue a toda cidade que vier a sediar o Congresso Mundial de Arquitetos. A cidade do Rio de Janeiro não estava prevista para ser a primeira a receber o título. A conquista é resultado da soma de vários esforços”, explicou a vice-presidente.
Integrante do Comitê Científico do UIA2020RIO, Margareth Pereira vê o Rio como uma cidade historicamente conectada a outros grandes centros urbanos. Essa ligação remonta ao Brasil Império. Segundo a pesquisadora, em 1824, o Rio foi apresentado aos franceses como a cidade que podia fazer sonhar com uma nova forma de futuro. “Em panoramas de 360º, moda naquela época, o Rio de Janeiro figurava ao lado de cidades como Jerusalém, Roma e Paris. Fomos mostrados em Paris e Londres, fazendo com que as pessoas sonhassem com um novo futuro”, disse. Os panoramas eram telas, destituídas de molduras e de começo ou fim, que eram exibidas em construções circulares e apresentavam traços inovadores, não só na forma como eram mostradas ao público, mas também no formato, nas dimensões e no tratamento temático.
Com o tema “Todos os Mundos. Um só mundo. Arquitetura 21”, o congresso está estruturado em quatro eixos temáticos, que definem uma matriz a partir da qual se agruparão as conferências, mesas-redondas, mostras, workshops e demais atividades do evento. Os eixos não estanques, mas interconectados. São eles: diversidade e mistura; mudanças e emergências; fragilidades e desigualdades; transitoriedades e fluxos. A metodologia permite agregar trabalhos, saberes e reflexões que enfrentam um similar conjunto de questões, reunindo pessoas com interesses comuns, mesmo se diversos em lugar, escala, programa e enfoque.
Margareth defendeu, ainda em sua apresentação, o engajamento das entidades profissionais de arquitetura e urbanismo e das novas gerações na construção do UIA2020RIO. “Precisamos que as novas gerações, os arquitetos e os urbanistas pensem o que é viver em cidade e o patrimônio que representa. A cidade é uma das maiores experiências coletiva. Não podemos deixar de discutir esse assunto”, defendeu.
O UIA2020RIO será o maior evento do Rio de Janeiro após as Olimpíadas. A expectativa dos organizadores é que o evento atraia entre 15 mil e 20 mil arquitetos de todo o mundo à capital carioca. O evento tem o apoio do CAU/RJ, do CAU/BR, da Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas (FNA), da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA), da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA), da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (ANPARQ), do Conselho Internacional dos Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP) e da Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (FPAA).