Adara Nataly Loureiro Duarte foi a grande vencedora do I Prêmio Grandjean de Montigny, promovido pelo CAU/RJ. A Comissão Julgadora considerou o tema do projeto “Manguinhos submerso – Operação Urbana” de extrema importância para a cidade do Rio de Janeiro, tratado a partir da atenta compreensão da escala e da complexidade da área, onde funcionou a Refinaria de Manguinhos, e da sua inserção na cidade. “A metodologia de abordagem do projeto de recuperação da área degradada demonstra sensibilidade, competência e inventividade”, destacou a Comissão. Como prêmio, Adara Loureiro recebe uma viagem para Paris, com dez diárias pagas.
O resultado foi divulgado nesta quinta-feira, 15 de dezembro, Dia do Arquiteto e Urbanista, em cerimônia concorrida realizada no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no Flamengo, com a presença do presidente do CAU/RJ, Jerônimo de Moraes Neto, do arquiteto e urbanista Ruy Ohtake, que presidiu a comissão julgadora, e do cônsul geral adjunto da França, Jean François Laboire, e conselheiros do CAU/RJ, entre outros.
O nome do prêmio é uma homenagem ao arquiteto francês Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, membro da Missão Artística Francesa, que chegou ao Rio de Janeiro em 1816 e que criou a primeira escola de arquitetura do país, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.
“Temos muitas razões para comemorar esta noite. Além do Dia do Arquiteto e Urbanista e do I Prêmio Grandjean de Montigny, celebramos os 200 anos do ensino de arquitetura no país e o 5º aniversário do Conselho de Arquitetura e Urbanismo”, afirmou Jerônimo de Moraes, na abertura do evento, destacando a importância das entidades que organizam a profissão de arquitetura e urbanismo antes da existência do Conselho.
“Assim como a missão francesa traçou o futuro da profissão no país, o CAU espera contribuir para a valorização do arquiteto e urbanista nos próximos anos”, acrescentou o presidente do Conselho.
No país há cerca de um ano, o cônsul geral adjunto da França. Jean François Laborie, lembrou que a arquitetura brasileira é reconhecida em todo o mundo e citou obras arquitetônicas que o impressionaram na cidade, como a revitalização da área portuária, e outras que guardam relação com seu país como o Teatro Municipal, semelhante ao Ópera de Paris, e a Casa França Brasil, projetada por Grandjean de Montigny. “Eu e a França ficamos muito honrados pelo convite para essa premiação, lembrando a missão artística francesa. Vamos discutir com o CAU meios de promover o intercâmbio entre os arquitetos e urbanistas dos dois países. Os estudantes são muito bem-vindos”, disse.
O coordenador da Comissão de Ensino e Formação (CEF) do CAU/RJ, Conselheiro Leonardo Mesentier, explicou como surgiu a ideia do prêmio. “Entendemos que o CAU estabelece um conjunto de atribuições profissionais que só podem se consolidar, se houver um ensino forte correspondente. É o que desejamos incentivar”, afirmou Mesentier. Presente na mesa de abertura, o presidente do IAB-RJ, Pedro da Luz, falou sobre a importância da preparação para o Congresso da UIA que acontecerá na cidade em 2020. Para ressaltar a importância da premiação da noite, ele lembrou que Grandjean de Montigny venceu o Prix de Roma, que é promovido até hoje por algumas escolas americanas e francesas.
Inovação e sustentabilidade
Quebrando o protocolo, o arquiteto e urbanista Ruy Ohtake enumerou as qualidades do projeto vencedor, antes mesmo de anunciá-lo. “Apesar de ser um estudo preliminar, aborda muito bem o urbanismo quanto a seus aspectos ambientais e à sustentabilidade. Espero que a estudante continue desenvolvendo o projeto para transformar Manguinhos em uma área muito significativa para a cidade. O projeto dá um passo muito importante do ponto de vista da contemporaneidade e do futuro”, afirmou.
O projeto Manguinhos submerso – Operação Urbana, feito em colaboração com Mateus Rosa, e orientação dos professores Duarte Vaz e Vinicius Mattos, apresenta a “possibilidade de integração entre os terrenos da refinaria de Manguinhos e de depósitos com o tecido urbano, trazendo melhorias socioeconômicas e culturais por meio de um conjunto de ações sustentáveis que vão desde a recuperação das áreas de mangue, tratamento e reaproveitamento de água e implantação de moradias, apropriando-se das estruturas e instalações industriais”.
Ohtake destacou a relação dos tanques da refinaria, que participam do espaço urbano como um centro difusor de cultura, propondo um novo diálogo. “Parabenizo o CAU e o IAB, que realizou o Arquiteto do Amanhã, por permitirem que os jovens arquitetos exponham suas ideias enquanto ainda não possuem clientes e podem explorar, ao máximo, sua liberdade criativa”, completou.
Ruy Ohtake realizou ainda uma breve apresentação sobre seu trabalho, além de apontar quatro arquitetos e urbanistas que considera como os mais relevantes desde o século XIX Antoni Gaudí, Oscar Niemeyer, Zaha Hadid e Frank Gehry. “Esses arquitetos romperam com status cultural e arquitetônico para inovar. A história não faz o futuro, o que faz o futuro é a intuição e a vontade inovadora, é não ter medo de surpreender ou causar polêmica”, afirmou. “Por isso, pessoal de Manguinhos, não tenham medo, imaginem uma cidade daqui a algumas décadas”, aconselhou Ohtake.
A vencedora do prêmio Adara Nataly, formada pela PUC-Rio, contou que, quando começou a desenvolver o trabalho, queria tratar de regiões alagadas. “Também considerei o IDH (Índice de desenvolvimento humano) da área escolhida. O nome do trabalho não é Manguinhos submerso à toa, o local está oculto ao desenvolvimento da metrópole”, explicou com um misto de felicidade e surpresa. “Nunca imaginei que fosse conhecer Paris desse jeito. É uma conquista muito grande”, comemorou.
Seu concorrente foi o trabalho de Operação Urbana Estação Gramacho, de Jonas Abreu, da FAU/UFRJ, feito sob a orientação de Pablo Cesar Benetti. “Sei que é um clichê, mas estar aqui para mim já é uma vitória. Vou continuar a me inscrever em outros concursos”, contou Jonas. Ele e Adara Nataly venceram o 33º Prêmio Arquiteto do Amanhã, realizado pelo IAB-RJ, nas categorias arquitetura e edificações e urbanismo e paisagismo, respectivamente.
Além de Ruy Ohtake, os arquitetos e urbanistas e conselheiros do CAU/BR, Maria Elisa Baptista e Luiz Fernando Janot, também integraram a Comissão Julgadora do I Prêmio Grandjean de Montigny. Para Janot, o projeto Manguinhos submerso estimula uma reflexão importante sobre a forma de intervir em questões de recuperação de áreas degradadas. Maria Elisa Baptista explicou que o projeto propôs a reurbanização da área, com a recuperação do mangue, áreas de controle de inundação, de lazer e reutilização de contêineres para habitação popular.
“A estudante utilizou um conceito valioso, que é ver o problema como parte da solução. Ela lida com a situação pré-existente, aproveitando as instalações. O local que ela escolheu é um ícone de nossas cidades, uma área de séria degradação causada pelo modelo industrial, atravessada por uma avenida de grande circulação”, afirmou Maria Elisa.