O público presente no auditório da sede do CAU/RJ, na quarta-feira (19/04) teve a oportunidade de assistir a uma cena rara: Seu Silva, sem camisa e de bermudas, marretar, sem piedade, as colunas do antigo Palácio Monroe. Pouco depois, a fachada com o letreiro “Senado Federal” e a data de sua construção, 1904, despenca de uma só vez, trazendo um sentimento de tristeza e perplexidade aos que têm maior consciência sobre o patrimônio histórico.
A destruição do Palácio Monroe, localizado na Avenida Central (atual Av. Rio Branco), onde, hoje, há uma praça e um estacionamento subterrâneo, é apresentada no documentário Crônica da Demolição. O longa foi patrocinado pelo CAU/RJ e produzido pelas empresas Imagem-Tempo e Tela Brasilis, com coprodução do Canal Brasil e direção de Eduardo Ades. “O filme é baseado em três eixos: o valor arquitetônico do prédio em si, a presença urbana do Palácio e a preservação do patrimônio histórico”, explicou Ades após a exibição.
A história é contada por meio de imagens de arquivo que mostram o Centro do Rio de Janeiro em diferentes épocas e depoimentos de Noel de Almeida (ex-presidente do Metrô), Humberto Barreto (assessor do presidente Geisel), Maria Elisa Carrazzoni (conselheira do SPHAN), Jonas Sliachticas Filho (restaurador de arte, que participou da demolição) e Cesar Maia (ex-prefeito do Rio), além dos arquitetos e urbanistas Margareth Pereira, Alex Nicolaeff, Alfredo Britto, Ítalo Campofiorito, entre outros.
O desejo de modernização do Centro do Rio de Janeiro, materializado pela construção do metrô, e interesses imobiliários estão entre os motivos que resultaram na demolição do Palácio. Outro fator de peso, que surpreendeu a plateia, foi o parecer contrário ao tombamento pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN), assinado por Lúcio Costa, que não apreciava sua arquitetura eclética.
Outras lendas urbanas que tentam explicar a destruição do Monroe também vieram à tona durante o debate que se seguiu à exposição. “Investigamos uma possível rivalidade entre Geisel e a família do coronel Francisco Souza Aguiar (que construiu o Palácio), mas não encontramos nenhuma evidência. A mesma coisa para a teoria de que o Palácio atrapalhava a vista para o monumento dos Pracinhas. Não faria sentido demolir um prédio construído por um grande militar para liberar a visão para o monumento em honra aos militares”, contou Ades.
O longa foi selecionado no Edital de Patrocínio Cultural nº1/2016 do CAU/RJ. A empresa Imagem-Tempo Produções Cinematográficas recebeu R$ 35 mil do Conselho para finalização e divulgação do documentário. O documentário chegará aos cinemas no dia 11 de maio, nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Texto: Ascom CAU/RJ – Marta Valim