A cidade do Rio de Janeiro está sendo palco de inúmeras intervenções urbanísticas de grande porte. É louvável que depois de tantos anos de abandono, investimentos públicos e privados relancem um novo olhar sobre as demandas e potencialidades do espaço construído de nossa cidade e estado. Mas também é lamentável que estes investimentos só estejam ocorrendo em função dos eventos internacionais, como a Copa e os Jogos Olímpicos que aqui serão sediados.
O compromisso republicano e federativo para distribuição proporcional dos recursos federais nestes últimos anos não prevaleceu. Desde a mudança da capital para Brasília, o Rio de Janeiro ficou relegado a sua própria sorte. Agora mesmo o nosso Estado está sendo penalizado pelos novos critérios da redistribuição dos royalties do petróleo aprovados pelo Congresso Nacional. Nestes 50 anos, a cidade viveu uma história amarga de fuga de capitais cuja consequência foi desastrosa para o bem estar de nossa população.
Portanto, sejam bem vindos estes novos investimentos. Entretanto, é importante que esta euforia não perca de vista os verdadeiros interesses da população. Estes investimentos não devem atender prioritariamente aos negócios lucrativos do capital investidor.
Inaceitável nos parece aceitar que o planejamento urbano seja orientado pelos financiadores do mercado imobiliário e pelas grandes empreiteiras. Fundamental combater esta distorção sobre a compreensão da cidade. A cidade é locus de seus habitantes e somente a eles deve servir. Os interesses da maioria da sociedade devem sempre prevalecer. Assim deve ser uma cidade democrática.
Intervenções como a da Marina da Glória, a revitalização da área Portuária, o entorno da Vila Olímpica, entre outras, devem valorizar e resguardar a qualidade do espaço público dos interesses privados. Áreas públicas consagradas por lei são destinadas para uso de atividades públicas. As formas dissimuladas e até sofisticadas de privatização do uso de espaço público devem ser combatidas por todos, principalmente por nós arquitetos e urbanistas, profissionais responsáveis pelo bom uso e planejamento destes espaços.
O velho canto da sereia, de que o capital privado é o gerador do desenvolvimento, hoje só pode ser aceito quando disciplinado por regras baseadas na prevalência dos interesses coletivos e sob absoluto controle do poder público. Por consequência, este deve obediência a população que o elege e respalda seu poder. Esta é a verdadeira democracia, representativa e participativa, que afirma e fortalece a cidadania.
É chegada a hora de retomarmos o debate sobre as nossas cidades. Somente através do diálogo franco e propositivo avançaremos. Entidades dos arquitetos como IAB, FNA, ABEA, ABEA, ASBEA, ABAP, de outras categorias profissionais como OAB, ABI, Clube de Engenharia e outras instituições formadoras da opinião pública jogam um papel importante neste debate. O CAU/RJ não medirá esforços na tentativa de aglutinar as forças vivas de nossa sociedade na construção do projeto de cidades justas e dignas para seus habitantes.