Ao nos aproximarmos da discussão sobre a presença de profissionais ou empresas estrangeiras em nosso país, é fundamental afastarmos do debate paixões ufanistas, sentimentos xenófobos ou mesmo atitudes arrogantes de autossuficiência profissional. Outra manifestação que comumente ocorre é a defesa da reserva de mercado, como se isso fosse possível em economias cada vez mais globalizadas.
A presença de arquitetos de outros países não é nenhuma novidade para o Rio de Janeiro. A começar pela Missão Francesa (metade do séc. XIX), com o Plano Agache (Arq. Alfred Agache – década de 1920) e o Plano Policromático Doxiadis (Arq. Constantin Doxiadis – 1965) que produziram impactos culturais e urbanos expressivos em nossa cidade. Estas ações profissionais trouxeram sem dúvida alterações na vida cultural e social tanto do cidadão comum, quanto na “intelligntzia” formadora da opinião pública.
É inegável a contribuição de projetos como o Beaubourg em Paris (Arq. Renzo Piano, Richard Rogers, Franchini), ou mesmo o Guggenheim em Bilbao, Espanha (Arq. Frank Gehry), na renovação do espaço urbano onde foram construídos, sem falar nas inúmeras obras de Oscar Niemeyer espalhadas por diversos continentes. Em outras palavras, é sempre saudável para as metrópoles esta troca de experiências, linguagens e culturas entre profissionais que pensam e projetam uma arquitetura de qualidade que contribua para a evolução do futuro urbano espacial das cidades.
Esta é uma visão cosmopolita que o Rio de Janeiro pela sua formação histórica e processo cultural de seus habitantes sempre manteve a despeito da postura provinciana ou paroquial que se encontra em muitas cidades brasileiras. Para o bem e para o mal, esta é a nossa tradição e esta característica não se apaga pelo simples desejo de uma categoria profissional. Trata-se, portanto, de lidar com esta questão com equilíbrio e bom senso, evitando a emoção exacerbada do debate.
É evidente que o CAU tem o dever e a obrigação de disciplinar a presença profissional de colegas estrangeiros, tanto em relação as pessoas físicas quanto as jurídicas, fiscalizando e orientando criteriosamente suas relações de trabalho com os arquitetos e urbanistas brasileiros. Para nós, é inaceitável a presença irregular no país e/ou sem registro no CAU de profissional autônomo ou assalariado exercendo atividade privativa daqueles que são legalmente habilitados. Também é inaceitável que profissionais brasileiros sejam somente testas de ferro de escritórios estrangeiros. A relação entre profissionais deve ser de intercambio técnico e não meramente mercantil. Afinal, arquitetura deve ser sempre um produto cultural que interfere de forma positiva na vida das pessoas.
Outra medida urgente que o CAU deve adotar é estabelecer com instituições coirmãs de outros países acordos bilaterais que garantam a reciprocidade nas relações profissionais. Para o Conselho, essas atitudes parecem medidas preliminares necessárias para organizar as atividades que o mercado brasileiro, hoje atrativo, exerce sobre os nossos colegas de outras nacionalidades.