O Museu de Arte Contemporânea de Niterói, a Passarela do Samba, além do conjunto de edificações projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 6/05. Os três ícones arquitetônicos passam a integrar o Conjunto da Obra de Oscar Niemeyer, lista com outras 24 obras, tombadas pelo Instituto no centenário do arquiteto e urbanista, em 2007.
Para o conselheiro do CAU/RJ e presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Washington Fajardo, o tombamento dos dois monumentos cariocas é de grande importância. “No caso do Sambódromo, acredito que houve um entendimento correto. É um lugar muito dinâmico, com características etnográficas marcantes e que demanda intervenções. Acredito que a decisão contribui para que o local seja tratado de forma condizente com o valor que ele possui”, afirmou.
Palco dos desfiles das escolas de samba do Rio, o Sambódromo foi inaugurado em 1984 para substituir as arquibancadas móveis de estrutura tubular montadas em outras ruas do Centro, recebendo, anualmente, cerca de 60 mil foliões.
A utilização do espaço é um dos motivos que leva o conselheiro do CAU/RJ Carlos Fernando de Souza Leão Andrade a questionar o tombamento da Passarela do Samba. “Se o tombamento for levado ao pé da letra, não seria possível colocar as propagandas dos patrocinadores do carnaval, por exemplo. Seria suficiente tombar apenas parte do complexo”, apontou o conselheiro.
“Já o MAC é uma referência importante, que ajudou a dar uma identidade àquela região de Niterói”, completou Carlos Fernando, ex-superintendente do Iphan-RJ (2006 a 2011). O museu, feito em concreto aparente em forma arredondada, com forma semelhante a um disco voador, no Mirante da Boa Viagem, possui 2,5 mil metros quadrados. Prestes a completar 20 anos, está fechado para reformas.
A construção do museu, entre outras obras de Niemeyer em Niterói, é tema da exposição fotográfica patrocinada pelo CAU/RJ, com acervo de Paulinho Muniz. A mostra, que já foi exibida no Bistrô Mac, está em cartaz na Câmara Municipal de Niterói até 12 de maio.
“O trabalho de Oscar Niemeyer é carregado de simbolismos. Comunista declarado, humanista excêntrico, o Arquiteto do Brasil optou pelos valores populares nos poéticos memoriais descritivos que, comumente, acompanhavam seus projetos monumentais. Arquiteto dedicado, artista de gênio incomum, fazia questão de dizer que ‘o importante é a vida’. Por conhecer profundamente uma de suas maiores obras – o MAC de Niterói –, minha experiência é de que esse aforismo, de fato, se reflete em seus projetos”, afirmou o conselheiro suplente do CAU/RJ e diretor-geral do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Manoel Vieira, que participou da sessão do Conselho Consultivo do Iphan que decidiu pelo tombamento. (leia abaixo o comentário completo de Manoel Vieira)
Em São Paulo, as obras assinadas por Niemeyer no Ibirapuera incluem a Grande Marquise, o Palácio das Nações (ocupado, atualmente, pelo Museu Afro Brasil), o Palácio dos Estados, o Palácio das Indústrias (atualmente ocupado pela Fundação Bienal), o Palácio de Exposições ou das Artes (também como Oca) e o Palácio da Agricultura (onde está localizado o Museu de Arte Contemporânea da USP). O Parque, de 1,5 milhão de metros quadrados, foi inaugurado em 1954, com projeto paisagístico de Burle Marx.
Os bens tombados ficam sujeitos à fiscalização do Iphan, e qualquer intervenção deve ser previamente autorizada pelo órgão. O tombamento das obras foi decidido por unanimidade pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan, formado por membros do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério da Educação, Ministério das Cidades, Ministério do Turismo, Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), e mais 13 representantes da sociedade civil.
A relação de obras tombadas que compõem o conjunto da obra de Oscar Niemeyer foi elaborada pelo próprio arquiteto e urbanista e encaminhada ao então Secretário-Executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, em 2007.
Texto CAU/RJ – *Com informações do Iphan
O tombamento em conjunto das obras de Niemeyer pelo IPHAN
* Manoel Vieira – Diretor-geral do Inepac
Foi com muita honra que recebi o convite de participar da sessão do Conselho Consultivo do IPHAN que consagrou o tombamento das principais obras do arquiteto Oscar Niemeyer no Brasil. E isso por diversas razões.
Uma delas é por ser Niemeyer considerado o grande arquiteto do Brasil, reverenciado em todo o mundo pela beleza das sinuosas formas dos seus projetos, que trouxeram frescor a uma arquitetura que, moderna, tinha predileção pela linha reta.
Outra é pela minha deferência àquele egrégio conselho, formado por membros de notável saber sobre o assunto, como Ítalo Campofiorito, Nestor Goulart Reis Filho e Carlos Eduardo Dias Comas, e que selecionou as obras mais representativas do nosso grande gênio – com destaque para o Palácio Capanema, o Conjunto de Pampulha, o Conjunto de Brasília, a Passarela do Samba e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói – para fins de preservação.
A terceira se deve ao fato de o pedido de tombamento ter partido do próprio arquiteto, pouco antes de sua morte, quando sugeriu a proteção de 24 monumentos seus. Esse é um ponto da maior importância, pois demonstra tanto sua preocupação com o futuro de suas obras como sua compreensão plena do valor do tombamento.
Mérito maior é que o trabalho de Oscar Niemeyer é carregado de simbolismos. Comunista declarado, humanista excêntrico, o Arquiteto do Brasil optou pelos valores populares nos poéticos memoriais descritivos que, comumente, acompanhavam seus projetos monumentais. Arquiteto dedicado, artista de gênio incomum, fazia questão de dizer que “o importante é a vida”. Por conhecer profundamente uma de suas maiores obras – o MAC de Niterói –, minha experiência é de que esse aforismo, de fato, se reflete em seus projetos. Essa foi uma das razões.
Por fim, cabe aplaudir o brilhante trabalho realizado pelo Iphan, tendo à sua frente a presidenta Jurema Machado, uma mulher determinada que, por meio desse ato, garante às futuras gerações uma promenade architecturale pelas obras do grande mestre. Imagino que, se vivo fosse, ele se sentiria um pouco mais honrado pelo tombamento ter se concretizado na gestão da atual presidenta. Afinal, Oscar Niemeyer foi o arquiteto das curvas, do traço inusitado, do relevo do Rio de Janeiro e do corpo da mulher.