Nas últimas décadas, a nossa profissão tem sofrido expressivas modificações no seu exercício. Independentemente dos avanços tecnológicos e digitais que alteraram as metodologias de projetos, as necessidades de mercado promovidas pelas demandas da sociedade brasileira estimularam os arquitetos e urbanistas a ocuparem novos espaços da produção, alargando sobremaneira o espectro das atividades destes profissionais na indústria da construção civil e do planejamento urbano de nossas cidades.
Hoje é comum encontrarmos colegas trabalhando em diversas frentes da profissão, não mais se limitando ao projeto de arquitetura, execução de obras ou desenho urbano. Muitos gerenciam projetos técnicos e obras de grande porte, atividade antes exercida somente por engenheiros; já no planejamento das cidades, arquitetos e urbanistas lideram equipes multidisciplinares. Enfim, o perfil vem se transformando de forma acelerada.
A questão nesse momento é refletir se a formação promovida hoje pelas universidades cumpre os objetivos dessa nova demanda de trabalho e afirmação profissional. A discussão corajosa entre docentes, colegas que exercem efetivamente a atividade e estudantes deve ser estimulada e imediatamente desencadeada.
No Brasil, há 289 cursos de graduação em arquitetura e urbanismo, oferecidos por 162 universidades – 18 delas no Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e do Ministério da Educação (MEC). A proliferação dos cursos, em sua grande maioria organizados por instituições privadas de ensino, não garante uma qualidade de ensino que desenvolve as atribuições convencionais, quiçá aquelas ora como novos desafios da profissão.
Independentemente das formas de atuação conquistadas ao longo dos últimos anos, a Lei nº 12.378/2010 e as Resoluções 21 e 51 do CAU/BR – que estabelecem as atribuições privativas de arquitetos e urbanistas e as compartilhadas com outros profissionais das áreas tecnológica e humana – exigem ajustes nas diretrizes curriculares, de modo a estabelecer grades das disciplinas ministradas que efetivamente permitam ao profissional recém-formado estar minimamente preparado para enfrentar imposições e regras do mercado de trabalho. Mais do que nunca, é importante uma reaproximação da Universidade com o arquiteto e urbanista em exercício, integrando-o em seus quadros docentes, como nas bancas dos trabalhos finais de graduação.
Muitos países adotam o conceito da formação contínua em contraposição à formação concluída quando da colação de grau e do registro no órgão licenciador. Alguns, como o Instituto de Arquitetos Americanos (AIA), chegam ao limite de conceder o registro por prazos limitados, renovados se o arquiteto comprovar ter passado por uma quantidade de horas de reciclagem previamente estabelecidas. É evidente que não precisamos chegar a tanto e com tal rigor. Devemos encontrar soluções compatíveis com a cultura e a tradição da nossa formação. Trata-se de um lento processo de convencimento e conscientização de todos os atores da nossa cena profissional. Faz-se necessário o primeiro passo, e o CAU joga um papel importantíssimo na resolução dessa equação: ENSINO DE ARQUITETURA x EXERCÍCIO PROFISSIONAL = FORMAÇÃO CONTINUADA.