O Brasil ainda convive com o antagonismo de dois países integrados em um corpo só – o dos miseráveis excluídos do processo social e o das riquezas produzidas pelo capital. A pobreza, de fato, reduziu nos últimos anos e uma nova classe média pobre surgiu. Entretanto, estamos longe do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países desenvolvidos.
O país urbano e rural capitalista se ressente de infraestrutura. A produção agrícola organizada em agronegócios voltada para exportação não possui redes modernas e eficientes de escoamento de sua produção. Esta é a nossa realidade: estradas mal conservadas, rede ferroviária insuficiente e sucateada, e portos obsoletos.
Nas áreas urbanas o quadro se expressa com veemência e dramaticidade: aeroportos congestionados em seus terminais, mobilidade urbana reduzida a grandes congestionamentos, imobilidade e rede de transporte urbano insuficiente e inadequada. As regiões metropolitanas do país absorvem as benesses produzidas pelo sistema econômico, mas convivem com a falta de planejamento e de governança, com espaços urbanos desorganizados, miséria, conflito e violência.
O modelo econômico adotado pelo Brasil, nestas últimas décadas, privilegiou o consumo como forma de estimular o giro da economia, procurando, assim, garantir acesso à riqueza para as camadas da população antes marginalizadas. Hoje, estamos pagando o preço deste equívoco.
Enquanto nossa economia cresce timidamente, as asiáticas, em particular a China – hoje a segunda economia do mundo –, crescem com taxas de 10% ao ano. Nos últimos 30 anos, os investimentos nesta parte do mundo foram maciçamente aplicados em infraestrutura, educação, saúde, planejamento, tecnologia e conhecimento.
Agora, o Brasil tardiamente se dá conta do tempo perdido e tenta alterar o rumo do seu desenvolvimento, com investimentos basicamente em infraestrutura.
De forma precipitada, utiliza-se de mega eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, para reorientar sua prioridades de investimentos. Iludido com supostos aportes de recursos internacionais, percebe que a maior parte dos investimentos é realizada com recursos nacionais – tanto que o povo com a sua grande sabedoria constata e exige que os serviços públicos oferecidos também possuam o “padrão FIFA”.
Este canteiro de obras em que se transformaram nossas principais cidades – o Rio de Janeiro em particular – confirma a falta de planejamento e a má aplicação dos recursos públicos. O que observamos são estádios não concluídos nos prazos previstos, aeroportos anacrônicos, transporte urbano inadequado e números de hotéis insuficientes. Além disso, notamos a construção de hotéis que após os mega eventos, provavelmente, se transformarão em flats ou unidades habitacionais – construídos com vantagens da legislação de uso do solo próprias para empreendimentos hoteleiros.
A má administração do dinheiro público nos causa preocupação, pois em nossa área de atuação profissional nota-se a desfaçatez com que se administram as obras públicas desde o planejamento até os recursos investidos. Ademais, o mercado imobiliário, fonte permanente de trabalho para nós arquitetos, dá claro sinais de grave desaquecimento.
É difícil e grave a situação do nosso país e de nossas cidades, mas… desesperar e desanimar jamais!