Apagões, falta de abastecimento de água, lançamento de esgoto in natura nos corpos hídricos, colapso no sistema caótico de transporte coletivo, ausência de modernização das infraestruturas que garantem o desenvolvimento social e econômico do país e suas unidades federativas: esta é a realidade brasileira.
São várias as razões que estão na origem da crise que hoje vivemos. Uma delas é, sem dúvida, a falta de planejamento estratégico alicerçado em dois principais planos: os estruturantes e os prioritários ou emergenciais. É evidente que quase todas as prefeituras e governos estaduais possuem em seus arquivos documentos, propostas gerais e setoriais de suas e administrações anteriores. Infelizmente, são peças de ficção.
A compreensão do planejamento como “processo” – instrumento dinâmico, auto monitorado, controlado e fiscalizado diretamente pela sociedade – não interessa aos nossos governantes. Eles desaprenderam – se que é algum dia souberam – que a arte de governar é dialogar permanentemente com a sociedade, colocando o interesse público em primeiro lugar. Esta relação dual estabelecerá o planejamento de longo prazo e suas políticas públicas setoriais voltadas para reduzir impactos das situações imprevistas e acidentais, bem como as improvisações.
Esta concepção de governar para o povo, evidentemente, deve ultrapassar as administrações que se sucedem. É claro que cada governante eleito, em função de seu ideário partidário e eleitoral, priorizará determinadas ações, atualizando e ajustando metas previamente estabelecidas. Entretanto, o arcabouço de um Plano Pluri Anual, realizado com a participação plena da sociedade em conjunto com as estruturas técnicas governamentais, deve e precisa ser respeitado e preservado em seus princípios basilares.
Nós, arquitetos e urbanistas, como essência da própria profissão, praticamos no nosso dia-a-dia o exercício do planejamento. O que é projetar se não planejar um espaço público ou privado? A sociedade brasileira, mais do que nunca, necessita do concurso de seus técnicos nas diversas especializações. É nosso dever devolver a ela o investimento feito em nossa formação. Não defendemos uma nova tecnocracia, como vivenciamos em passado recente – uma casta de técnicos que produziam soluções distanciadas das aspirações sociais – mas a reafirmação do papel imprescindível das profissões no projeto e construção da nação brasileira.
Este é um ano eleitoral importante, uma vez que as próximas eleições definirão novos governantes federais, estaduais, mandatários no Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. É chegada a hora de profundas mudanças nos critérios de escolha de nossos representantes nas instâncias públicas de decisão.
O CAU/RJ em conjunto com as demais entidades dos arquitetos – IAB, SARJ, ABEA, ABAP, ASBEA – e com outras instituições da sociedade civil desenvolverá esforços no sentido de contribuir para o avanço de nossas consciências.
Não é hora de se lamuriar da dita falência do país. Ao contrário, o momento é de juntarmos força para a grande virada social, econômica e histórica que o nosso povo e país merecem.